segunda-feira, dezembro 28, 2009

HÁBITOS ACUMULADOS




Tenho um hábito (entre tantos que se acumularam com o passar dos anos ) de ler dois ou três livros intercaladamente.
E quando tenho nas mãos um romance histórico ou que trata de História do nosso Mundão, o bicho pega!
E desta vez estou relendo HAVAÍ, de James A. Michener, UMA BREVE HISTÓRIA DO MUNDO, de Geoffrey Blainey e A MÃO E A LUVA, de Machado de Assis.
Hábito que tenho é procurar auxílio no mapa-múndi.
Acabei pedindo – e ganhando – de presente um globo terrestre, desses que ficam sobre a escrivaninha e que giramos e chafurdamos a procura dos lugares citados nos textos.
O mais novo hábito que incorporei à minha lista eu adquiri quando, ao ler HAVAÍ, encontrei uma web radio especializada em musica havaiana.
Ler aquelas passagens que descrevem com tal realismo os cenários havaianos e ouvir a musica que embala aquela cultura é uma experiência interessante.
Com relação a Machado de Assis terei ainda que procurar por uma web radio que toque maxixe.

terça-feira, dezembro 15, 2009

A IRONIA DO ARGUMENTO E A FACA DE COZINHA

A ironia foi a maneira que Caco encontrou para tentar dar um fim àquela discussão.
Os bate-bocas, dignos em quantidade para fazer parte do Guinness, poderiam ter se encerrado com os argumentos de Caco quando propôs a sua mulher que, se ela emagrecesse 20 quilos, ele não beberia mais cervejas do que a cota social permitisse, deixaria o cigarro de lado e abandonaria a vida boêmia.
De nada adiantou, pois a baixinha-gorducha – como ele descrevia sua própria mulher – ao ouvir a proposta, transformou-se numa fera. Afinal ela não se via enquadrada naquele estereótipo, pois, longe do espelho, ela se achava com boa altura e somente um pouco acima do peso.
Ela então decretou que se ele seguisse bebendo, fumando e boêmio, não permitiria mais noites nem dias ou tardes de sexo; a cama de casal seria só dela. E foi mais longe ainda ao determinar que Caco se arranjasse num hotel, motel, casa de amigos ou até que dormisse no carro.
No artigo segundo a baixinha irada determinou que Caco não pudesse dormir com outra mulher, pois se ela descobrisse a traição, a faca de cozinha seria usada como instrumento para extirpar certo símbolo fálico.
Porém, esta ameaça não o incomodava. Ela jamais descobriria casos de adultério. Caco considerava-se um expert se bem que, ultimamente, o desejo andava meio em baixa, mas não morto.
Mesmo assim ele sempre tentava, através de carinhosos convites, ver sua mulher acompanhando-o nas incursões por pizzarias, bares e pubs, mas, repetidamente, as mesmas condições eram impostas pela gorducha.
Ele jurava nunca ter aprontado. É certo que às vezes se excedia um pouco na bebida, o que fazia dele um falastrão inconveniente: falava muito alto, quase aos gritos. Ria, gesticulava e batia no ombro dos ouvintes exageradamente.
Numa sexta-feira, na metade da tarde, Caco ligou para o celular de Celinha – a gorducha-baixinha – com o firme propósito de levá-la, à noite, a um bar alternativo. Antes passariam pela pizzaria de costume para jantar com amigos e depois os dois iriam para o bar ouvir blues, leitura de contos e esquetes.
Na imaginação de Caco, depois das canjas que sempre aconteciam no palco daquele bar, e já com o dia quase amanhecendo, ele estaria entrando em casa levando sua gorduchinha nos braços e então se enroscariam nos lençóis até que adormecessem exaustos e satisfeitos de tanto amor.
Mas, tão logo Celinha quis saber das cervejas e cigarros, Caco sentiu, mais uma vez, que não tivera sucesso na investida.
Para piorar ainda mais a desfeita ela indicou a garagem da casa como dormitório, o banco do carro como cama e, se ele escolhesse um motel e uma loira oxigenada como companheira, a faca de cozinha estaria bem afiadinha. Ameaçava-o dizendo que a castração poderia acontecer de surpresa enquanto ele estivesse bêbado de cerveja, cheirando a cigarro e com o perfume barato daquela puta impregnado na cueca.
Na verdade, Celinha não aceitara a proposta de perder os 20 quilos, nem 10, nem 5; talvez dois ou três.
Caco, por sua vez, não deixaria a boemia, os cigarros e a cerveja.
E aconteceu o inesperado.
Naquela madruga, 4 horas de sábado, Caco arrependido pelos exageros resolveu, como todo o bêbado depois de beber vários copos e fumar duas carteiras, que deixaria os vícios a partir do dia seguinte.
Falaria com Celinha e as coisas ficariam acertadas. Começaria a fazer caminhada, musculação e talvez até passasse a freqüentar restaurantes especializados em cozinha macrobiótica.
Assim decidido foi pegar o carro no estacionamento a fim de seguir o caminho de casa. Dormiria na garagem sem maiores dificuldades. Depois procuraria por sua baixinha, pediria desculpas, dois ou três beijinhos, promessas, um beliscãozinho na bunda dela – que ele já não pensava ser tão gorducha – e depois sexo na cama, na cozinha, na sala e iria aonde ela quisesse. Uma viagem faria bem para eles, pensava Caco em meio à vertigem do álcool.
No estacionamento, Caco teve dificuldades para acionar o alarme.
Foi então que uma loira alta usando saia tão curta que deixava a calcinha vermelha à mostra surgiu para socorrer nosso amigo.
Caco ficou entusiasmado com tanta mulher à disposição. Por um instante esqueceu-se das promessas que fizera minutos atrás e prontamente aceitou a ajuda.
Alertado pela enorme loira sobre possíveis blitz com bafômetros, Caco alcançou a chave do carro para que ela dirigisse. Informou o endereço de casa e partiram.
Durante o trajeto Caco tentou, sem sucesso, apalpar as longas pernas da loira perfumada, mas ela se esquivava e pedia para que ele parasse com as investidas, pois poderia provocar um acidente ao desviar a atenção.
Ao chegarem à casa de Caco e já com o carro pronto para acessar à garagem ele conseguiu enfiar a mão entre as pernas da loirosa que, perdendo a atenção, projetou o carro contra a porta da garagem.
Por causa do estrondo da batida, a baixinha-gorducha acordou e, em segundos, estava ao lado do carro.
Nas mãos ela trazia a faca de cozinha afiada como prometera.
Caco tentava explicar a situação e o acontecido. Foi terrível ver os olhos saltando das órbitas da gorducha.
A loira, nervosa com tudo aquilo e vendo a faca sendo apontada para o meio das pernas de Caco, teve que agir e, esquecendo-se da condição de travéco, tirou os sapatos de salto e saiu em disparada rua abaixo.
Quanto ao nosso amigo Caco eu soube que ainda está internado no hospital convalescendo depois de demorada cirurgia de reconstituição.
Celinha, dizem já ter perdido 8 quilos na penitenciária feminina.

quarta-feira, novembro 18, 2009

A MINHA FEIRA DO LIVRO


A minha Feira do Livro aconteceria na Praça mesmo.
Sem essa de mudar porque é verão, porque tem muita gente circulando e porque pisam nos pés das pessoas; porque tem muitas escolas e suas crianças barulhentas; porque não tem estacionamento, porque não tem praça de alimentação no centro do espaço da Feira, porque se chove fica alagado, porque etc., etc. e etc.
Aqui comigo: se eu pudesse faria algumas mudanças, mas o lugar da Feira é na Praça!
Primeiro eu começaria a falar de livros em janeiro, exatamente no segundo dia do ano, oito ou nove meses antes do acontecimento do evento literário.
Falamos de futebol durante o ano todo! Por que não falar de livros por oito ou nove meses?
O futebol, paixão nacional, tem mais de cem anos, mas os livros têm quase a idade da civilização; o futebol acrescentou quase nada; livros fizeram a evolução da humanidade.
Eu procuraria os jornais, rádios e emissoras de televisão e pediria que durante os programas esportivos que, por sinal só tratam de futebol, fosse destinado um pequeno espaço para que se falasse de livros e da Feira de outubro-novembro; sugeriria que durante o noticiário que trata das corrupções dos nossos políticos, dos assassinatos de pessoas comuns e das drogas, um pequeno espaço tivesse que ser destinado ao livro; proporia que durante o horário político - obrigatório, da mesma forma tivéssemos notícias sobre livros, autores e eventos.
Em segundo lugar eu proporia edições de livros especiais para a Feira.
Os lançamentos deveriam ter preços especiais; as editoras, a partir do segundo dia do ano divulgariam através das mídias as vantagens que os visitantes teriam na compra de volumes na Feira de outubro-novembro.
Teríamos pré-lançamentos em eventos mensais patrocinados por interessados em incentivar a cultura. Algo como Bolsa-Livro ou Vale Livro-Familia poderiam fazer parte de programas patrocinados pelos governos.
Em terceiro lugar eu convenceria as grandes lojas que vendem livros em shoppings a se instalarem na Praça. Poderiam trazer seus volumes, tapetes, ar condicionado e seus seguranças de óculos escuro. Mas teriam que cumprir pequenas exigências como oferta de livros mais baratos e ampla divulgação. As redes de livrarias deveriam, necessariamente, começar a falar de livros no segundo dia do ano, logo que a tabela do Gauchão, da Libertadores ou da Copa do Brasil viessem a ser divulgadas, ao mesmo tempo em que os primeiros tiroteios nos morros do Rio se apresentassem como a principal manchete dos noticiários.
Assim seria a minha Feira.



domingo, novembro 15, 2009

LER

LER

“Vulgar é o ler, raro é refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas idéias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é um armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas.”


(Elogios Acadêmicos e Orações de Paraninfo, Edição de Língua Portuguêsa, 1924, pág. 36).

Nota: texto extraído do livro “DICIONÁRIO DE CONCEITOS E PENSAMENTOS DE RUI BARBOSA”, EDART – São Paulo Livraria e Editora, 1967, Luiz Rezende de Andrade Ribeiro.

sábado, novembro 07, 2009

Barteatelier Camaleão Art & Boemia

Estive na terceira edição dos encontros multiculturais que acontecem sempre nas sextas-feiras no Bar Camaleão, em Novo Hamburgo.
Shows musicais, esquetes, leituras de contos e outros tipos de manifestações culturais ocorrem num ambiente acolhedor e saudável.
E para provar a vocação cultural do Camaleão na próxima sexta-feira, dia 13 de novembro, será dada a largada do projeto cultural “LATÃO DO CAMALEÃO”.
Na entrada do bar o público encontrará a lata de lixo, na qual serão colocados livros trazidos pelos clientes.
Os volumes formarão o acervo da casa e poderão ser lidos no momento em que o cliente estiver nas dependências do bar ou então levados para casa e devolvidos quando o leitor achar conveniente sem a necessidade de comprovações, fichários, etc.
Sempre que a lata de lixo estiver lotada os volumes serão doados a uma instituição que será escolhida pelo público freqüentador do Camaleão.



Agende-se: Show BBLUES "ACÚSTICO" - dia 13/11 - sexta-feira.
Bateria: Nando Arrienti
Baixo e vocal: Mauro Sarmento
Violão, harps e vocal: Uncle George

Lembrete: leve um livro para o "LATÃO DO CAMALEÃO".

O bar fica na Rua Pedro Adams Filho, 4517 no estacionamento do Dubai Bar & Restaurante, em Novo Hamburgo.
O comando é do Paulo Pioner.

terça-feira, outubro 20, 2009

HARMONIZANDO RÓTULOS

As confissões que meu amigo Jerônimo Jardim registrou no seu blog - http://jeronimojardim.zip.net/ - fizeram-me repassar minha história de aprendizagem musical.
Antes tenho que dizer: confesso ter me apropriado do título do texto do Jerônimo. Que ele permita.

Aconteceu que de meu pai herdei o gosto pela música erudita, pelo jazz, blues, canções italianas, alemãs e pelas gravações, sempre em vinis de 78 rotações, de bandas militares.
Por isso aos domingos eu não perdia uma apresentação se quer dos Concertos para a Juventude que aconteciam no teatro da Reitoria da Ufrgs.

Por minha mãe fui apresentado ao samba de raiz quando ela me fazia ouvir Ataulfo Alves, Cartola e Pixinguinha. Ela passava os dias cantarolando canções populares de Agnaldo Rayol, Cauby Peixoto, Peri Ribeiro, Jair Rodrigues, Clara Nunes e Miltinho. Muitos boleros eu tive que ouvir e tocar no violão. Talvez sua principal referência fosse Aracy de Almeida ou ainda Elizeth Cardoso.
Musica para ela era alimento.

Tempo depois minha irmã Marcia colocou na “eletrola” um “compacto” dos Beatles, depois dos Carpenters, Credence, Stones, Joe Jeffrey e então entrei para o mundo do rock e do pop. Ainda ela seria a responsável por me fazer conhecer a bossa nova através das rodas de violão e dos festivais universitários; também por ela conheci a musica coral no dia em que passei no teste aplicado pelo maestro Pablo Komlós conquistando um espaço como barítono do coral da URGS.

Quando me achava abastecido conheci uma musica gaúcha inovadora em sua sonoridade.
O musico que às vezes se apresentava com o violão Ovation nos churrascos de domingo na casa de meus pais era Jerônimo Jardim. As harmonias me encantaram.

E, como fez o meu amigo no seu blog, tenho que confessar: fui discriminativo, pois evitei o rótulo da “musica sertaneja”.
Portanto, receio ter que voltar às minhas confissões mais adiante já que ainda não administro muito bem o rap, os grupos de pagode, funk e alguns outros estilos meramente comerciais que ouvimos por aí.

Tentarei harmonizar os rótulos.

sábado, outubro 17, 2009

O VENTO E AS IDEIAS

Perguntou-me um amigo:
- De onde saem as ideias?
Pois é: de onde? – pensei. Eu respondi que...sei lá....
- Como, sei lá? – indignou-se o cara.
Eu não soube explicar, mas lembrei que Érico Veríssimo disse que “as ideias aparecem com o vento”.
Às vezes penso que as histórias, os desenhos, as canções e essas imaginações todas estão guardadas num canto da cabeça fazendo hora; noutras vezes fico assustado com a quantidade delas. Puro fervilhamento!
E quando leio boas histórias fico entusiasmado.
Cenários, personagens, barbas, cabelos, olhos mais ou menos verdes ou azuis, mulheres lindas e feias, montanhas, rios, penumbras, sombras, praias, campos, traições e tramas... E por aí vamos. Tudo desfila por trás dos olhos; nos bastidores; detrás da câmera.
Como explicar?
É um louco quem inventa e conta histórias? Solitário ser humano? Esquizofrênico? Egoísta porque não conta todas que conhece? Arrogante? Altruísta porque conta algumas?
Sei lá!

terça-feira, outubro 06, 2009

LISCA - O domador

Julho ou agosto. Fazia muito frio ao pé da Serra do Caverá. O vento pampeano não encontrava poeira alguma para levantar. A terra úmida deixava a estrada embarrada e escorregadia. Do mata-burro até a sede da Estância Santa Leonida, Lisca levava, a pezito, um pouco mais de um quarto-de-hora. Bota de cano alto, poncho surrado, uma boina de lã e a velha mala de garupa, que agora descansava sobre seu ombro direito. O lado esquerdo do negro Lisca era mais arriado que o outro. A mala escorregava e caía..
De tantas quedas sofridas, o negro já havia quebrado quase todos os ossos do corpo. Mas, ainda assim era forte como o redomão que, quando avistava o peão domador ponteando na coxilha, resmungava entre corcoveios e relinchos.
Atado no palanque e levando uma sova atrás da outra, entre gritos de “te-acalma-redomão”, Lisca suava para dominar o animal. O crioulo então, desatou as rédeas do palanque, encilhou o maltratado cavalo, montou-o e riscaram em direção à taipa, que era rodeado por corticeiras. E foi numa delas que o corcel deu de cabeça, furioso que estava pelas surras que tinha levado do negro. Logo sangrou pelo corte provocado em consequência do esbarro cometido. O tronco arrancou-lhe um pedaço do couro rosilho.
Próximo dali, embaixo de uma figueira centenária, Lisca derrubou o seu amigo ferido, algemou-lhe as patas com tiras de couro e iniciou a cirurgia. Costurou a testa do animal depois de passar um “splay” - como Lisca falava - para amenizar a dor do bicho. Com o joelho no pescoço do cavalo, examinou o tordilho. Lisca, então, o batizou: - Ele vai se chamar Remendo, o Redomão.
Anoiteceu. Depois de tomar uns mates com os companheiros de lida e lasquear a paleta de ovelha aquecida no fogo de chão, Lisca pediu licença e saiu do recanto onde proseavam seus amigos.
Pegou uns pelegos, o poncho, a mala de garupa e foi para baixo da figueira. A cachorrada saiu atrás. Recostou-se no tronco, fez um palheiro e descansou sua adaga bem ao lado para um causo de emergência. Acendeu o cigarro, puxou uma daquelas longas tragadas, olhou para o nada e soltou devagar a fumaça.
O frio e o vento não lhe incomodavam. Sentiu-se até muito bem. O frio, acalmava-o; o vento trazia o cheiro da terra e do campo. Quanto mais forte o vento soprava, mais claro ele ouvia o barulho dos quero-queros e siriemas cuidando da noite.
O som de uma oito-baixos vinha do galpão, misturado às risadas da peonada ouriçada pelos tragos que bebiam. A guampa rolava de mão em mão, quase discreta.
Lisca se perdeu em pensamentos no meio da fumaça de seu palheiro. Não era dado a longas conversas, a não ser consigo mesmo. Hoje o negro completava 52 anos de vida e 30 de doma.
Durante muito tempo Lisca levou uma vida nômade, “gáucha” de verdade! De estância em estância na época da esquila, e de invernada em invernada, domando cavalos e éguas pelas terras dos doutores patrões. Era seu aniversário e nada de churrascada, nada de guampas encharcadas de canha, nada de mulheres.
Na sua lembrança surgia a imagem de sua mãe. De certo que “Dona Lilica” estaria preparando a janta na sede da Estância do Paço, bem longe dali. De seu pai veio-lhe a figura de um negro com braços tão fortes que seria capaz de derrubar um sobreano com um único tapa.
Mal e mal conviveu com seu pai. O “Negro Valdo”, como era chamado, morreu depois de ser picado por uma cruzeira quando percorria o campo, numa noite quente de verão, atrás de ladrões de gado. Seu pai não resistiu e morreu quando Lisca tinha 10 anos. Aos 12 saiu para a lida e, de verão em verão, visitava Dona Lilica.
Uma dor forte na perna esquerda fez o negro Lisca interromper seus pensamentos. A dor era sua velha conhecida. Foi de um tombo que o fez “cair no chão”. O osso grande da perna se quebrou em duas partes. A ponta de um deles rasgou o couro e ficou pra fora. O sangue jorrava pra todo lado.
Na época da quebradeira Lisca domava cavalos em uma estância que ficava do lado de lá da fronteira. O campo dos uruguaios ficava longe de tudo. Não havia recurso. O único disponível, na hora da fratura vinha de uma parteira que entalou a perna do negro Lisca com pedaços de lenha usadas para aquecer as estufas e salamandras.
Lisca se curou. “Ficou mal juntado”, explicava o negro.
Aos 52, Lisca fazia um balanço de sua vida. Sabia que era um dos melhores domadores da fronteira. Havia domado “uns quantos” cavalos e éguas. Nunca fizera as contas e, quando um ou outro gaúcho lhe perguntava quanto tinha juntado de dinheiro, Lisca desconversava e bebia mais um gole. Mas quando lhe faziam um elogio, o negro ficava mais feliz que cusco em churrascada domingueira. Aí, contava daquela doma e do outro tombo e da égua que lhe quebrou a perna, e mostrava a cicatriz e o calombo que aparecia na canela.
Nessa noite no entanto, Lisca estava meio malito. Sentiu-se triste, confuso, sem explicação. Foi até o galpão, deu de mão na primeira guampa de canha que avistou e voltou para sua figueira. Um ovelheiro havia deitado sobre seus pelegos. No primeiro momento, Lisca teve vontade de correr o laço no guaipeca, só que hoje, Lisca estava diferente. Sentou-se ao lado do Peludo, passou a mão pela cabeça do cusco e concluiu que ali estava um companheiro fiel.
A oito-baixos tocava uma valsa triste. Lisca chorou.
As lembranças de seu pai e de sua mãe, os seus 30 anos de lida, “as quantas domadas”, as mulheres que teve e as que não teve, o dinheiro que não ganhou, a gaita soando ao fundo, os quero-queros e o vento fizeram Lisca sentir um pouco de frio.
Na verdade ele não sabia o que estava lhe acontecendo; pelo que se lembrasse, nunca havia ficado tão triste como agora... Ficou pesaroso quando morreu o “Doutor João”, seu patrãozito da Estância do Paraíso; outra vez ficou magoado quando mataram algumas cabeças do plantel de primeira dos correntinos... mas, desse jeito de agora, Lisca nunca tinha ficado.
No seu balanço, Lisca concluiu que, de tudo que teve, lhe sobrara solamente um cavalo, o Remendo, os pelegos e trapos, uma adaga, um ovelheiro e...nada mais! Acabou emborcando a guampa e tomou a canha até o fim. Sentiu-se menos triste.
A oito-baixos se aquietou. Ele, virou-se, olhou na direção do galpão e viu apenas a luz do lampião na porta de entrada. O cheiro da lenha queimando vinda da lareira da casa grande, fez Lisca respirar fundo e fechar os olhos. Sentiu menos frio. Adormeceu encostado no Peludo.

Nota do autor: conto premiado em 2007.

terça-feira, setembro 22, 2009

DAS LEMBRANÇAS

A fumaça das folhas e galhos queimando bem ali na frente, no jardim da casa, levou-a ao devaneio.
Sempre assim: a fumaça e logo o olhar na direção do lusco-fusco procurando ver o campanário da igreja, que da varanda ela tentava entre as copas das casuarinas embaladas pelo vento.
Se primavera, a quimera se apresentaria mais intensa; se final de tarde, a fumaça se misturaria com lembranças e pitadas de nostalgia e logo, viriam as lágrimas... Boas lágrimas!
Até que escurecia.
Permaneceria ali, pensativa, até que fosse buscada, um pouco antes da hora do jantar.
Sempre assim!
O toque delicado da irmã, no ombro dela, junto com a troca carinhosa de olhares, era o sinal que dava fim à melancolia. Logo o sacolejar da cadeira de rodas, seu esteio desde oito anos atrás, lembraria, hoje sem mágoas, que era dependente. Nem tanto assim, sentenciava!
Sem desgostos ela seguia conduzida até a sala de jantar.
Das lembranças, só as mais belas ficaram; as más a fumaça já levara, há muito, com o vento.

sexta-feira, setembro 11, 2009

AOS HIPÓCOPROS

Não tenho como fazer-me de avestruz enfiando a cabeça em buraco, pois acordo e durmo contabilizando informações negativas tendo eu que escolher raciocinar e opinar em vez de ser mais um hipócrita que não adota posição e se acomoda no silêncio dos fracos para que não venha a ser rotulado de pessimista num tempo que cobra status e resultados, ganhos e vantagens, dinheiro e conquistas e postura de vitorioso quando nem sempre esta seja uma verdade evidente.

O pessimista se entrega; o hipócrita se esconde.

Assim é que assaltam nosso bolso a procura de impostos, corrompem e trocam a própria decência por propinas, instalam comissões meramente políticas, sentenciam em cima de leis ultrapassadas e nos roubam a dignidade em cada discurso mentiroso, em cada roubo nas esquinas das ruas imundas, em cada vez que temos que transitar por estradas destruídas e entupidas de caminhões, em cada trem urbano e ônibus dominados por bandidos que monitoram - sem necessitarem de câmeras e pardais - as nossas vidas.

Tudo é assim; é real; é verdadeiro!

E não posso deixar de ver e ouvir a mídia voraz que se apoia na miséria controlada e historicamente mal resolvida; na renda na mão de poucos; vejo e escuto a mídia que se detém na imagem da lágrima escorrendo no rosto da mãe que perdeu o filho para o crack, para as drogas, para a prostituição; só a imagem interessa!
A mídia que coleta milhões de reais em nome de crianças abandonadas é a mesma que fala do pecado original, do inferno, dos dízimos devidos; é a mesma que divulga maciçamente a promiscuidade e que vende cultura popular de pouca qualidade apoiada por incentivos com sobras; é a mesma mídia que não cobra a existência de leis de incentivos para compra de equipamentos hospitalares e para a saúde pública, mas que dá apoio às mais rasteiras manifestações culturais dizendo ser arte popular que, afinal, serve para cegar os olhos de pessoas sem recursos que se deixam comprar por esmolas escamoteadas.

E assim e por tudo isso eu procuro estar otimista, pois não teria sentido usar meus dias entre resmungos e irritações e ainda ter que conviver com os meus próprios pecados.

segunda-feira, setembro 07, 2009

MUNDO DA LUA

Eu vivo no mundo da lua
Tu vives no mundo dos tolos
Tolos não vivem na lua
Na lua não vivem os bobos

Eu vivo no mundo da lua
Na lua é claro; é limpo
Pessoas acham que a lua é fria, branca e insegura
Não sabem que o mundo da lua é melhor que o mundo da rua

Na lua tem noite e tem dia, crianças, mulheres e tias
São todas mais altas e fortes do que os homens que moram na rua

Os cantos das ruas da lua são poucos e não tem ninguém
As coisas do mundo da lua são coisas que são de alguém
Sem pedir, ninguém pega, não rouba e não aceita vintém

Os bichos que moram na lua têm nome de homens da rua
As ruas da lua são longas são retas e quase sem curvas
Os cães não latem na lua
Os gatos sossegam na lua

A chuva no mundo da lua não é como a chuva das ruas
O sol do mundo da rua queima a pele do homem da rua
A brisa do mundo da lua não é como o vento do mundo da rua

A lua é curva e nua
A rua é suja e escura
A lua não é do homem da rua; a lua é do mendigo da rua
A lua ilumina a rua do homem que sonha com o mundo da lua

MENDIGO DA LUA

Eu vivo no mundo da lua
Tu vives no mundo dos tolos
Tolos não vivem na lua
Na lua não vivem os bobos

Eu vivo no mundo da lua
Lá é claro; é limpo.

Pessoas acham que a lua é fria, branca e insegura
Não sabem que o mundo da lua é melhor que o mundo da rua
Na lua tem noite e tem dia, crianças, mulheres e tias
São todas mais altas e fortes do que os homens que moram na rua

Os cantos das ruas da lua são poucos e não tem ninguém
As coisas do mundo da lua são coisas que são de alguém
Sem pedir, ninguém pega, não rouba e não aceita vintém

Os bichos que moram na lua têm nome de homens da rua
As ruas da lua são longas são retas e quase sem curvas

Os cães não latem na lua.
Os gatos sossegam na lua.

A chuva no mundo da lua não é como a chuva das ruas
O sol do mundo da rua queima a pele do homem da rua
A brisa do mundo da lua não é como o vento do mundo da rua

A lua é curva e nua
A rua é suja e escura
A lua não é do homem da rua; a lua é do mendigo da rua

A lua ilumina a rua do homem que sonha com o mundo da lua

domingo, agosto 16, 2009

A FORMIGA

Não sei se sou eu o primeiro a escrever sobre aquela formiga. Não sendo aviso que não fui pelo plágio, apropriando-me indevidamente de ideia de outro, pois nunca li coisa parecida.
Aconteceu assim.
Absorvido pelo texto de um conto que me fazia compartilhar as confidências que Maria segredava a Augusto deparei com uma minúscula formiga que andava sobre as palavras impressas naquela folha.
De fato era muito pequena e parecia nervosa, porque circulava sem rumo definido.
Como que tivesse um microscópio diante dos meus olhos eu forcei minha visão até constatar que a formiga não media mais do que a cabeça de um alfinete.
A visão aguçada levou-me aos detalhes fazendo-me não enxergar mais as frases, as palavras, mas somente letras soltas e a formiga.
Meu cérebro não conseguia juntar aqueles símbolos e a formiga passou de inseto à protagonista.
Pensei comigo: formigas estão sempre trabalhando! Esta estava fazendo o reconhecimento do local. Sua tarefa, dentro da hierarquia existente no formigueiro, era procurar por folhas secas que são utilizadas como alimento.
Servi-me de uma lupa e comecei a investigar com cuidado o comportamento do inseto.
Foi assim que, depois de alguns minutos, observei que a formiguinha andava catando letras, ou seja, ela escolhia uma letra, depois outra e assim por diante.
Logo, de minha observação, concluí que aquela combinação de letras formava palavras que arrumadas resultavam em frase e, por fim, numa pergunta.
A formiga queria que eu indicasse onde ela poderia encontrar folhas secas e, se eu soubesse, seria muito bem recompensado.
Antes de indicar o melhor local falei que eu poderia ajudá-la, mas adverti que o formigueiro de onde ela partira havia, provavelmente, duas horas, estava muito longe daquela página; além disso, avisei-a que o tempo estava mudando, pois o vento norte que soprava naquele momento, indicava que a chuva forte dificultaria seu retorno ao formigueiro.
Rapidamente fui tranquilizado pelo inseto. Ela disse, juntando as letras, que tinha um plano “B”, caso a tormenta viesse a acontecer.
Como eu já desconfiava as formigas estão sempre preparadas para suportar catástrofes, visto que, não raras vezes, os formigueiros são compulsoriamente devastados. Mas elas não se entregam prontamente.
Surpreendo-me ao constatar que algumas delas, depois do desastre, contabilizam mortes por esmagamento, afogamento, encontram formigas mutiladas e com queimaduras importantes, enquanto que outras seguem cumprindo duras tarefas. Mesmo assim, ainda encontram forças físicas e morais para reerguer nova morada.
Ao insistente e impaciente sinal da formiga, que então corria em círculos chamando minha atenção, apontei para o local onde estavam as melhores folhas secas do pátio. Era junto ao pé de uma pitangueira.
Antes que ela seguisse sua jornada, voltei a alertá-la sobre a existência de sabiás que eu observara executando voos rasantes naquele local. Estavam à caça de minhocas e formigas como ela.
Mais uma vez fui tranquilizado pela formiga que voltou a me relembrar da existência do, para mim desconhecido, plano “B”.
Despedimo-nos. Desejei-lhe boa sorte aproximando a lupa como se eu pudesse encontrar expressão de agradecimento no olhar da formiga.
Um pouco sem graça acenei. Ela respondeu com um obrigado escolhendo letras maiusculas.
Percebi que, desta vez, ela saiu em linha reta, na direção do pé da pitangueira.
Segui observando até que ela chegou à página seguinte.
Foi quando a formiga deu meia-volta e, desta vez, foi ela quem me alertou escrevendo que eu não contasse a ninguém sobre as coisas que Maria confidenciara a Augusto, pois as pessoas poderiam não acreditar.


sexta-feira, agosto 07, 2009

ACONTECEU NO LARGO

Fim da manhã de inverno. O artista de rua tocava seu violino lá no Largo, em frente ao Mercado Público. O sol aquecia a plateia curiosa. A maioria homens. Gente simples. Olhares desconfiados, submissos. Algumas mulheres da rua, pintadas, coloridas, dadas, circulavam por ali tentando vender prazer por uns trocados.
Atento, o homem que tocava esperava por sinais de aprovação enquanto contabilizava, com olhar de leão, o resultado das vendas dos cedes que sua mulher e a filha ofertavam ao público.
Pensou: talvez sejam vendedores de carnês, de balas, de pilhas; talvez recém chegados do interior em busca de trabalho, de casa, de comida; talvez flanelinhas ou camelôs agora sem tablado; talvez ex-presidiários; talvez desempregados.
A música embalava a dança do tocador de violino que solava O Sole Mio – a canção italiana mais italiana de todas. Ele tocava seu violino e fazia passos de dança para frente e para o lado.
Foi quando os olhos espertos do músico pinçaram, na terceira fila da plateia, um homem alto, gordo, barbado e impecavelmente vestido como se estivesse esperando, na coxia da caixa teatral, a vez de entrar em cena. Parecia ser Pavarotti a acenar-lhe com um lenço branco da mais pura seda indiana e logo, como em um espetáculo teatral, o barbado começou a cantar suave, lírico, apaixonado.
O virtuose violinista tirava o máximo do instrumento. O som vinha do alto-falante que estava lá atrás numa caixa encostada no muro de pedra que cercava o chalé da praça.
Também lá, justo ao lado, sentado na pedra fria da calçada, se encontrava um homem borracho de caña, bêbado por completo. A cabeça, escondida entre os braços cruzados sobre os joelhos dobrados, balançava lenta. Vez por outra ele levantava, guardava o rosto entre as mãos sujas e chorava, chorava muito, não cantava, só chorava. Logo cruzava os braços sobre os joelhos e se escondia novamente. O corpo mole quase caia para o lado. E chorava. Até que arriou derrubando o equipamento de sonorização provocando o maior estrago.
Por conta da desordem, o som do violino não era mais ouvido pela plateia então entusiasmada. O violinista, alheio, seguiu tocando para o gorducho barbado - e só para ele - até que foi ofuscado pelos raios de sol que brilhavam como as luzes de palco. Não mais enxergava o tenor da terceira fila. Perdera-o. Não ouvia mais a voz do italiano tão-pouco o som do próprio instrumento.
Quando conseguiu se proteger da claridade, depois de esfregar o rosto com as mãos trêmulas, viu que a plateia delirava e aplaudia eufórica. Ficou emocionado como quando tudo aconteceu na primeira vez. Fez mesuras. Estendeu os braços na direção de Pavarotti, mas, decepcionado, não o encontrou mais naquele lugar. Curvou-se em reverência uma, duas, três vezes. Mas era o bêbado que chamava a atenção da plateia, pois, apoiando-se na mureta, acabara de urinar na caixa de som do tocador de violino do Largo do Mercado.

segunda-feira, agosto 03, 2009

PARMESÃO COM VINHO

Tinha bebido várias taças além da conta.
O vinho do frio daquela noite, de quase zero, mais o parmesão eram os alimentos do soberbo que se tentava autor.
Bêbado e encharcado, as teclas pareciam soltas; as letras fora dos lugares; as palavras batiam no teto; as idéias evaporavam com os odores do vinho; a cabeça girava, girava...
Na tontura do vinho se parou a rir e rir e rir e rir até dormir de rir.

terça-feira, julho 28, 2009

O TREMA DO REGINALDO

O escritor Reginaldo Pujol contou que o velho amigo do U- o Trema - se mandou para a Alemanha.
Está na internet, dizem.
Outro autor, Henrique Schneider, confirmou o fato no encontro de ontem à noite que aconteceu na Livraria Digital, em Novo Hamburgo.
Fernando Ramos, editor do Jornal Vaia (
http://www.jornalvaia.com.br/) mais os poetas Sidnei Schneider e Alexandre Brito disseram que é verdade: Trema deixou o U na mão!
Tirante o fato triste do abandono ortográfico do amigo do Reginaldo a reunião esteve muito interessante.
Os autores descreveram com detalhes a rotina de trabalho de cada um, leram poesias e contos, fazendo-nos acreditar que a literatura deve ser apreciada e valorizada por todos, pois ela não é feita somente para alguns privilegiados.
Que a iniciativa se repita.
Parabéns!


A imagem é reprodução da capa do livro "O MELHOR DA FESTA" lançado pela Editora Nova Roma - Porto Alegre, RS, neste ano.
O livro apresenta obras de autores que participaram da FESTI POA Literária - Festa Literária de Porto Alegre, organizada por Fernando Ramos Trindade. O projeto gráfico é de Guilherme Moojen.
O evento aconteceu em 2008.

domingo, julho 26, 2009

CASTIÇO

Castiço é o apelido de Miguel Gutierres.
Nascido e crescido na fronteira, aos 16 anos pegou o trem que fazia a linha Livramento - Santa Maria. Procuraria por trabalho e estudo. Queria ser médico de criança.
Em São Sepé, quando o trem parou na estação, Miguel não desceu para o café. Era sete da manhã. Inverno rigoroso. O minuano soprava como nunca. Ficou dormindo recostado na mala de garupa.
O pai de Miguel - o Dr. Gutierres -, estancieiro de umas dez mil cabeças, doutor formado pela vida, desejava que o filho crescesse na lida campeira.
O velho ficou sabendo da viagem quando, às 5 da manhã, foi despertar o filho para mais um dia de trabalho. O guri deixara um bilhete sobre a cama comunicando que decidira realizar um sonho.
Todas as manhãs, às vezes à noite e nas madrugadas, Miguel e alguns peões tinham que recorrer o campo a fim de fazer o balanço das cabeças da estância São Thomás, obedecendo ordens do estancieiro.
Era comum encontrar carcaças de animais carneados ou bezerros agonizando ao relento; como Miguel tinha habilidade e gosto de manusear agulhas, seringas e remédios, vez por outra ele conseguia salvar um e outro animal.
Daí nasceu o desejo de ser médico.
O banco de madeira daquele trem não era tão confortável como a cama do seu quarto na estância, mas Miguel conseguiu encontrar boa posição. Sozinho, ele ocupava os dois assentos, pois o passageiro que lhe fizera companhia desembarcara naquela estação.
A cabeça descansava sobre a sacola com documentos e roupas; as mãos firmes abraçavam um romance. Miguel lia bastante para torná-lo razoável conhecedor de literatura. Era apaixonado por narrativas históricas, ficção e contos.
Falava um português quase castiço; fazia questão de tratar a língua portuguesa com carinho e não criticava de maneira acintosa quem falasse de outra forma, pois ali, na fronteira, as pessoas falavam um dialeto próprio, característico da cultura daquela região. Havia quem não gostasse dos modos de Miguel; afinal eram muitos “esses e erres”.
Por isso recebeu o apelido de Castiço.
Acordou ao sentir a sacudidela no ombro. A enfermeira, em pé ao lado do sofá onde ele agora descansava, dizia alguma coisa que ele ainda não assimilava. O pescoço doía, pois não usava travesseiro e ele adormecera encostado no braço do sofá da sala dos médicos.
Voltando lentamente à realidade notou que a enfermeira falava de um doente que estava aguardando atendimento na sala ao lado. Ele respondeu que sim, que tudo bem, que já estava indo, que estava cansado e louco para ir embora para casa, já que o plantão estaria terminado dentro de meia-hora.
Contou ainda que tinha sonhado com o pai e o dia em que deixara a estância na fronteira, há 40 anos, para tratar de curar pessoas na cidade grande e que seu apelido era Castiço.

sexta-feira, julho 17, 2009

PROJETO DE LEITURAS FEEVALE

Convidado que fui pelo escritor Henrique Schneider estarei participando do Projeto de Leituras Feevale – CONTOS DA VIDA BREVE – que acontecerá no próximo dia 22 de julho, 19 hs, em Novo Hamburgo, com a leitura de dois contos de minha autoria.
O evento será na Biblioteca Pública.
Anexo está o convite com mais dados e o calendário completo do projeto.

quarta-feira, julho 08, 2009

À RAZÃO

Ao ler aquela pequena parte do texto ele travou e, subitamente, voltou-se à própria razão.
Ali estava escrito: “... o poema permite, então, duas leituras: o desgaste material das coisas com o passar dos anos, e o desgaste psíquico, a perda das ilusões do ser humano com o passar do tempo”.
Leu, releu e leu novamente!
Como nas tardes de divã, o texto fora seu analista; como nas tardes de divã, o texto-analista ajudara-o a desnudar inquietações.
Lembrou do dia - num tempo do seu passado - em que pensou nas rugas e cabelos brancos dos velhos desgastados; hoje, aquela idéia é a realidade que pulsa dentro do próprio peito.
Ilusões? Ainda as tem. Secretas, incontáveis!

sexta-feira, junho 19, 2009

CARTA AO EDITOR



Brasília, 20 de junho de 2009.
Prezado senhor editor

Durante os anos de serviços trabalhando neste jornal como office boy, sendo eu encarregado de levar de um lado para o outro papéis, bilhetes e documentos, venho solicitar minha merecida e oportuna promoção.
Com a chegada da internet minha função passou a ser dispensável, tudo por culpa dos e-mails.
Sou office boy há 15 anos. Meus conhecimentos jornalísticos foram sendo aprimorados desde o dia em que me formei no curso que fiz na escola técnica da minha comunidade.
Recebi meu diploma com muito orgulho e, desde então, qualificado para tal função, trabalho no seu jornal com muito interesse.
Por causa de minha curiosidade acompanhei várias vezes o ato sublime do momento da criação pelos jornalistas desta casa que, no outro dia, veriam seus belos textos impressos nas colunas de crônicas e matérias do nosso jornal.
Observei, com muita atenção, editores e articulistas escrevendo nas antigas Olivettis, fato que me fez despertar para nova fase de minha qualificação. Passei a ler todo o jornal!
Cada crônica, cada linha, cada vírgula passou a ser motivo de minha total atenção.
Treinei em casa escrevendo matérias e artigos fictícios como se eu fosse entregá-los para sua revisão e posterior edição. Foi um período emocionante!
Assim, meu editor-chefe, sendo o senhor um dos mais brilhantes jornalistas, eu solicito minha promoção, passando eu a ser o mais novo e humilde jornalista deste veículo, já que, como provei acima, tenho todas as qualidades para exercer a função jornalística.
Adianto-lhe que já conversei com o jornalista responsável pelos artigos de culinária e moda que, prontamente, atestou minha experiência através das anotações que ele mesmo, de próprio punho, escreveu nas costas do meu diploma de office boy que anexo a esta carta.

Sem mais para o momento, subscrevo-me.

Atenciosamente,

Arigledson Faustin.

Office boy e Jornalista (com diploma!)

terça-feira, maio 26, 2009

HELMUT E O FUCA

Pode parecer estranho alguém ser chamado de Helmut; não aqui em Novo Hamburgo, cidade com fortes raízes encravadas na cultura alemã disseminada por colonos que escolheram o Vale dos Sinos como berço.
Helga, a mulher de Helmut, mais Frederico, João e Margarete, filhos legítimos do casal, cujo sobrenome é Bendler, insistem em manter hábitos dos ancestrais alemães.
Eles casaram jovens. Ela 16 e ele 20. Foi na igreja evangélica de Picada Hartz, hoje, Nova Hartz.
Em casa - e quando juntos trabalham com venda dos produtos produzidos por eles mesmos no próprio sítio – se comunicam falando em alemão.
O sítio fica na área rural. Gastam de 45 a 50 minutos de Kombi até chegarem ao centro da cidade onde acontece regularmente a Feira do Produtor Rural.
Numa segunda-feira – dia de Feira – os Bendler chegaram às 5 da manhã, um pouco depois da hora. A Kombi teve um pneu furado. Helmut e Frederico, 18 anos, o mais velho dos três descendentes, teve que providenciar a troca sem antes retirar do veículo as caixas que continham abóboras de pescoço, morangas, batatas e aquelas caixas mais pesadas.
Frederico bem que gostava daquela rotina, mas já demonstrava uma pontinha de curiosidade pela vida noturna da cidade. As festas da lingüiça, da batata, os kerbs e os bailes do chope que aconteciam na vila em que residiam já não lhe provocavam tanto ânimo. Queria experimentar novos caminhos. Divagava, enquanto trocava aquele maldito pneu daquela miserável Kombi 66-Luxo, - pensava o rapaz.
Helmut não parava de lhe dar ordens. Sempre foi assim, um mandão germânico, rude e orgulhoso.
Pneu trocado e com as caixas novamente acomodadas dentro do veículo seguiram viagem até estacionarem no local determinado ao longo do meio-fio da Rua 5 de abril, no centro de Novo Hamburgo.
Mais uma vez Frederico foi encarregado por Helmut de montar os cavaletes que serviriam como apoios às tábuas de madeira onde seriam expostas as cucas, pães, ovos, queijos, biscoitos amanteigados e frutas. Helga tratava de pendurar peças de tricô e crochê que ela mesma produzira durante as poucas horas de folga sentada na sala do chalé de madeira do sítio. Ela também não permitia que os produtos fossem colocados diretamente sobre a madeira, pois pensava que se os alimentos, principalmente as cucas e as tortas de maçã, estivessem sobre a toalha de plástico que ela mesma tratava de colocar sobre as tábuas, os Bendler teriam melhores resultados nas vendas.
Enquanto isso, João que tinha 13 anos e Margarete com 10 para 11 anos, varriam a rua e colocavam os papelões com os preços dos produtos.
A menina chamava a atenção de todos. O vestido cor-de-rosa rodado, sapato branco de boneca e os cabelos cacheados presos por uma fita branca de cetim faziam o maior sucesso, principalmente entre as pessoas que por ali passariam tão logo a guarda municipal liberasse o acesso.
Helga sabia que aquele encanto de menina atraía compradores. Por isso Margarete era orientada para que caminhasse, de um lado para outro, em frente à banca dos Bendler.
Porém, Helmut não aprovava a estratégia adotada por sua companheira, pois dizia que Margarete tinha que ficar atrás da bancada cuidando dos restos de folhas das beterrabas, galhos das cenouras e de uma ou outra fruta que estivesse podre colocando tudo aquilo no latão de lixo, ao lado da Kombi. Ele ainda pensava mais; dizia que não necessitava de ajuda para vender seus produtos, pois quem quisesse comprar que comprasse! Afinal “todos” sabiam que era a melhor banca da Feira, porque eram produtos produzidos pelas mãos de um genuíno descendente de alemães e, por isso, eram os melhores da região.

Helmut declarava-se o melhor produtor do Vale, assim como afirmava que nenhuma
fábrica de automóveis fabricou ou fabricaria veículos como os da Volkswagen,
muito menos utilitários, pois a Kombi seria a melhor camioneta já produzida no
Mundo e em todos os tempos. Imbatível! Era invenção dos alemães!
O pastor Rubens, de Picada Hatz, várias vezes pediu que Helmut contivesse os
ânimos mantendo os limites de expressão verbal, pois estava sendo, até certo
ponto, discriminativo
.

Helmut e Helga não tinham mais tempo para avaliações de mercado. A Feira estava abrindo.
Desta forma, Margarete passou o dia entre os afagos de senhoras e senhores pelos cachos loiros e muitos e repetidos elogios.
Helga, orgulhosa, contava o dinheiro que ganhava com a ajuda importante da filha.
Neste meio tempo João concentrava-se na vitrine da loja de material esportivo que ficava logo adiante. O menino era fascinado por futebol!

Perto do meio-dia Helga percebeu que Helmut sentara à sombra de uma das árvores do outro lado da rua. Estranhou, pois ele não se entregava a esses momentos de relaxamento. Ela então se aproximou do marido levando o copo com água fresca. Helmut suava bastante para que ela se preocupasse com o marido.
- Você está se sentindo bem, Helmut? – perguntou desconfiada.
- Estou bem. Não tenho nada, mulher. Volte para a banca.
- Eu te conheço, alemão cabeça-dura! Bebe esta água e me fale o que tu sentes?
Helmut se levantou rápido como um garoto e, deixando para trás sua mulher com o copo na mão, foi para a banca atender a um cliente que escolhia batatas.
A mulher, que já vira seu marido ter reações semelhantes nas últimas semanas, resmungou alguma coisa em alemão e voltou para trás da bancada. Mas seguiu observando o comportamento de Helmut.
As cucas assadas no forno de barro do sítio dos Bendler, sem dúvida, eram as melhores da Feira. Logo se esgotaram.
Margarete seguia caminhando de um lado para o outro; João permanecia com os olhos fixados na bola de futebol da loja esportiva; Frederico empacotava produtos e cobrava os clientes; Helga vendia seus crochês; as pessoas iam e viam com sacolas e carrinhos; Helmut precisou ir até a farmácia da esquina, do outro lado da avenida, para comprar algum remédio; sentia frio e enjôo.
Sem Helga saber falou para Frederico que já voltaria.
Quando retornava da farmácia, após ter ingerido duas drágeas de um remédio receitado pelo balconista e sentindo-se zonzo, não percebeu que o sinal verde indicava que o fluxo era preferência dos veículos e não dos pedestres.
Ao atravessar e já no meio da avenida aconteceu o desastre!
Todos em volta ouviram a freada de um veículo que provocou a correria das pessoas em direção à avenida. Frederico foi um dos primeiros a chegar. Lá estava seu pai estirado sobre o asfalto quente.
Frederico ajoelhou-se e segurou carinhosamente a cabeça do pai que agora balbuciava palavras ora de dor ora de ordem.
Frederico pediu que ele não falasse nada, que tudo iria dar certo. Que a ambulância já estava a caminho.
Mas Helmut, germânico, teutônico e rude não se entregaria assim, simplesmente.
Mandou Frederico voltar para a barraca e ficar com a mãe; ordenou que, amanhã, o milho fosse colhido e que Frederico não deixasse de ordenhar as vacas antes das 4 da manhã, pois o caminhão da cooperativa passaria pelo sítio às 6; que Helga comprasse a bola de futebol para João, pois sábado era o aniversário do menino; que Margarete saísse da frente da banca e, por fim, queria saber quem o havia atropelado.
O motorista do veículo se aproximou, porém estava muito assustado com a cena.
Helmut teve forças para puxar o braço do homem e perguntou ofegante:
- Você é o motorista?
- Sim, senhor, - disse o homem.
- Você é alemão? – perguntou Helmut em alemão.
- Sim.
- Qual o seu nome?
- Adolf, senhor, - respondeu o homem aturdido.
- Eu deveria lhe dar um bom soco nesta cara vermelha, Adolf, mas não vou...
Frederico e Adolf se entreolharam sem entender nada!
- Eu poderia morrer feliz, seu miserável! – afirmou Helmut falando com dificuldade entre os dentes cerrados, - perguntando:
- De que ano é o seu carro?
- É um Fuca 1959, alemão, importado pelo meu avô, - disse Adolf.
- Um Fuca? Um verdadeiro Volkswagen? – Helmut seguiu dizendo: - você me pegou muito rápido, Adolf, mas eu desconfiei que fosse um Fuca e torci para que fosse mesmo! Danke, - agradeceu em alemão.
Helmut olhou para Frederico, segurou a mão do filho, sorriu e voltou para a barraca!







quarta-feira, maio 13, 2009

MANTRA


Um dia desses sei que vou compreender
O que dizem as cartas ciganas
Saberei porque caçam anjos, querubins
Arrastam, matam, odeiam com gana

Viajam na droga em templos escuros
Matam a fome com a ira pagã
Do fanatismo que cega em seitas noturnas
Com corpo e cara de leviatã

Mantra, Mantra, Mantra
Eu quero Mantra...

Coisas do azul
Pedaços de céu
Escrevo aqui mesmo
Meu sonho meu mel


(Para a BBLUES - Letra e música: George Arrienti)

terça-feira, abril 21, 2009

Que há, há!

Há indignação generalizada!
Há político e política!
Há impunidade geral!
Há inércia!
Há voto!
Há esperança? (Há que me convencer!)
Há que mudar!
Há!

quinta-feira, março 26, 2009

Obrigado, presidente!


A frase do presidente é realmente de embitesgar britânicos, brasileiros e outros....

“Não podemos permitir que os pobres paguem por uma crise feita por ricos, sobretudo porque ela não foi gerada por nenhum negro, índio ou pobre. Essa crise foi feita por gente branca, de olhos azuis que antes da crise sabiam tudo e, agora, não sabem de nada”, salientou Lula.

Obrigado por tanta sensibildade e sabedoria, presidente!!!!

segunda-feira, março 02, 2009

RESPOSTA

Sem a autorização do autor do texto - espero que ele não fique contrariado - copiei a resposta do amigo Jerônimo Jardim escrita nos "comentários" do meu blog quando falei sobre a garotada tocando boa música.

Aí vai:
Ainda não perdi a esperança que a gurizada descubra o que é a harmonia jobiniana. Mas, da mídia, nada mais espero. Precisa de audiência para ter a verba dos comerciais que vendem produtos para as grandes massas. Atende o que garante a audiência. Não creio que isso vá mudar. Vale tocar em casa ou pra poucos bons ouvintes. (Jerônimo Jardim)

Decidi destacar a opinião do Jerônimo - e digo que concordo plenamente - depois de ouvir algumas "coisas" que estão rolando pelas rádios "mais" ouvidas.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

200 ANOS

(Ricochetes de pensamentos de quem não tem nada mais sério para o momento.)

O ser humano deveria viver 200 anos; nos primeiros 70 anos viveríamos por conta dos pais; dos 70 aos 130 trabalharíamos muito e todos, sem exceção, ganhariam muito dinheiro; dos 130 até completarmos os 200 viveríamos para gastar o que ganhamos e manter o único descendente, pois somente um filho ou filha (a escolher) seria permitido; não haveria doenças, por conseqüência nem hospitais, médicos e remédios; não haveria miseráveis; não haveria ladrões, nem políticos, nem polícia.
A morte seria sem dor e com data marcada para o mesmo dia, mês e hora do nascimento.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

OBAMA-LÁ; LULA-AQUI!


(Ricochetes de pensamentos de quem não tem nada mais sério para o momento.)

Vi no telejornal o senhor Obama chegando para um discurso; ele subiu a escadinha de acesso ao palco, onde faria seu pronunciamento, de dois- em -dois degraus como um atleta olímpico! Hilário!
É questão de estilo!
Seu antecessor, o ex-presidente George W. Bush, se movia como um pistoleiro de “western”, pois os braços estavam sempre separados do corpo, mão colada na altura dos coldres (talvez por causa da guerra no Iraque), passos firmes, olhar reto e fulminante; Obama faz um tipo jovial, atlético e com muita disposição para o trabalho e frases emblemáticas cuidadosamente estudadas.
Certamente que presidentes devem seguir as orientações das equipes de profissionais que cuidam da postura, entonação de voz, dicção, olhares, sorrisos e tudo mais. Mas, no caso dos presidentes estadunidenses é engraçado demais!
Bem, não é um privilégio deles porque nós temos o nosso sempre lembrado presidente Collor e suas investidas atléticas, aéreas e políticas!
Se tudo isso é verdadeiro posso pensar que Obama recebe orientações do pessoal de Hollywood.
Não estou querendo concluir que eles estão errados; muito menos que estão certos, pois o nosso descolado presidente Lula não tem nada de atlético, não sobe de dois-em-dois degruas - entre outras coisas que ele faz e não faz e que não tem a menor importância citar agora - mas, no entanto, provoca o maior frenesi entre seus exigentes quase 80% de eleitores-companheiros!

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

INEBRIADO

Ver o sol nascer me faz um inebriado!
Por causa da troca de horário acordei muito cedo: 4:45.
Olhando para as nuvens esperei pelos primeiros raios. Lembrei-me de muitas coisas; muitas madrugadas amanhecidas à beira-mar, curando a ressaca depois de algumas serenatas na velha Cidreira, escambiadas na forma de: “eu toco e canto e tu me serves mais um trago”.
Assim, a madrugada se ia, o sol nascia, eu mandava um Engov, um Sonrizal e depois de três ou quatro horas de sono eu já estava pronto para mais uma pelada sob o sol do meio-dia; depois do almoço uma soneca, mais tarde o chimarrão e a conversa fora com os amigos. Quando a noite se fazia, o encontro era nos bares para rodas-de-violão e tudo novamente acontecia até que a madrugada terminasse quando o próximo sol se apresentasse.
Pois hoje eu vi o sol nascer de forma inédita! Foi pela internet através de uma câmera instalada à beira-mar por uma dessas emissoras de televisão.
Com a “tela cheia”, eu pude ver o mar calmo, a areia úmida, os raios de sol brotando do mar, um e outro pássaro caçando moluscos e algumas pessoas que iam e vinham.
Senti o cheiro da areia molhada! Senti o vento trazendo o ar úmido!
Senti-me embriagado por tantas boas lembranças!

terça-feira, janeiro 06, 2009

LER É MELHOR QUE VER

Preparei-me entusiasmado para o seriado Maysa, mas logo arrefeci quando surgiram imagens de personagens que mais pareciam irmãos quando deveriam ser mãe e filha.
Outro exemplo é o caso do confesso apaixonado empresário que não envelheceu fato que constatei quando, anos mais tarde, então ele casado com Maysa, desfila sem um fio de cabelo branco ou rugas.
Maysa, por sua vez, ainda quando menina é acarinhada por sua mãe que também não muda fisionomia.
A cena mais deplorável é quando Maysa e seu marido estão no carro em viagem; ela fuma um dos “trocentos “ cigarros que permanece com a cinza intacta; os cabelos não estão desgrenhados – apesar do suposto vento - e nenhum som de buzinas e motores de carros é ouvido durante o trajeto.
Ah, sim! O carro tinha ar condicionado!

Por isso ler ainda é melhor que ver!
Nossa imaginação não nos trai e é rica em detalhes, cores, formas e tem noção de tempo passado, presente e futuro e o mais importante: nosso cérebro não se vale de exagerados retoques de “photoshop”.