Na sexta-feira, logo após o almoço, Karl Zander foi para a
estação de trens.
O operador do telégrafo, um senhor calvo, baixo e gordo,
confirmou que o trem aguardado chegaria
no horário previsto.
Zander consultou o relógio de bolso, herança que recebera de
seu pai, e verificou que faltava menos de uma hora para o trem chegar.
Naquela
tarde, chuvisqueiro e neblina tomaram conta da cidade. A umidade do ar provocava certo desconforto. Era o inverno se manifestando.
Zander acomodou-se numa das mesas da casa de café e pediu um
cortado duplo. Da mesa onde ele estava poderia observar a chegada da
composição. Vez por outra tinha que passar o guardanapo no vidro para
desembaçá-lo.
“Karl olhava para fora através da janela que
abria para o sul. Foi de lá que o trem partiu. Pequenas gotas se formavam e
escorriam por causa da chuva que agora caia. Seu olhar foi se perdendo.
Acompanhava as gotas escorrendo pelo vidro e, como num filme, viu sua mãe
pregando um botão na camisa do pai. Ela parecia pensativa sentada ao lado do
fogão aquecendo-se. Era hora do jantar. A mesa estava posta com seis pratos e
talheres e o cheiro de carne assada e a fumaça do fogão a lenha estavam tão
presentes que Zander sentiu um arrepio.
- Muti? E o pai? Não vai chegar? -
Karl viu-se menino conversando com sua mãe, enquanto brincava com um caminhão de
madeira feito pelo avô."
Karl foi tomado por forte nostalgia. Sentiu vontade de chorar. As lágrimas correram pelo rosto; deixou que escorressem até se esgotarem.