domingo, julho 04, 2010

NA PRAÇA


Teve que sentar. As pernas pediam um tempo de descanso. A dor no joelho, cada vez mais frequente, trouxe a bengala que o acompanhava nas caminhadas que ele insistia em fazer. 
O Domingo era importante para Udo, descendente de alemães nascidos em Baumschneiz, no interior de um município na serra gaúcha. Assim ele ainda se referia a Dois Irmãos, sede daquela municipalidade.
Jovem ainda mudou-se para cidade próxima, Novo Hamburgo, onde trabalhou como sapateiro até se aposentar.
Sentado no banco da praça, rodeado por árvores e pombos, Udo, apoiado na bengala, 85 anos, impecavelmente vestido, cabelos alinhados e olhar perdido aproveitava o descanso para chafurdar a própria memória, resgatando os tempos de família reunida, festas, filhos, a fábrica, o trem, as alegrias e as tristezas.
Hoje só! 

Viúvo há tempo, os filhos distantes e todos tratando de juntar dinheiro; Udo os orientara a viver para trabalhar, ganhar dinheiro e guardar, pois a vida era guerra e só os poderosos sobreviveriam.
O velho curvado não se deixaria abater por aquelas lembranças. Havia se preparado para aqueles dias de fim de vida. Mas hoje se sentia diferente, saudoso de quase todos.
Ah, a dor! 
Ela passaria e depois voltaria com as lembranças.