quinta-feira, abril 15, 2010

LUIS e o SOL


                   Luis e o Sol conversavam sobre a vida. Enquanto Luis falava, o Sol ouvia sabiamente. Não julgava; simplesmente ouvia.
Luis contou sobre a noite de amor que tivera com Carine.
Ela, então, apareceu no deck, vestida para o trabalho.
                   Bom dia, Luis! Você não dormiu?
                   Não consegui dormir, disse ele.
Ele falou que só iria para a Clínica depois. Tinha duas cirurgias marcadas no hospital à tarde e, se ela não se importasse, ele ficaria mais um tempo aproveitando o sol.
                   Claro! Fique por aí enquanto quiser. No refrigerador tem suco, frios e salada de frutas.
Beijou-o e saiu.
                   É uma bela mulher, disse ele ao Sol...

domingo, abril 04, 2010

FAZIA FRIO

Noite de Domingo. Eu caminhava pelo Centro da cidade. Os sacos de lixo, em frente ao prédio velho, estavam revirados. Restos de comida apodrecida, caixas de papelão e jornais, ali, encharcados pela fina chuva que lavara as ruas e calçadas esburacadas por onde circulavam alguns homens e mulheres. Fazia frio e por isso fechei o primeiro botão da japona, perto do peito. Tossi, escarrei. Doía por dentro da carne. Pensei que eu deveria procurar um médico. Tive que tossir. Tinha febre. Um café! Entrei num boteco. Embriagados se esfregavam nas prostitutas encostadas em mesas de plástico vermelho; ouviam pagode; bebiam cerveja. O cheiro de álcool, cigarro e fritura me enjoaram; quase vomitei. Quando levantei os olhos, depois de ter me contorcido de ardência, vi um negro e uma vagabunda se beijando. Estavam atrás do balcão. Nada discretos e bêbados. Esqueci do café; comprei um maço de cigarros. Eu não fumava há um mês. Um vira-lata me fez companhia. Uma criança tentava dormir na soleira da loja tendo um papelão como cama; o saco plástico, como cobertor. Ela chorava, tinha fome. Voltei ao bar e com pastel e leite alimentei a pequena. Pranteei com ela. Diabos! Segui em frente... A chuva apertou e molhou ainda mais o asfalto que refletia as luzes da noite fria. Parei na esquina. O vento soprava mais frio que há pouco. Um táxi estacionou e dele desceu um travesti. Sorriu para mim. Malicioso! Atravessou a avenida. Ele cambaleava. O cigarro queimou no canto da minha boca. Puxei a fumaça sem tirá-lo dos lábios. Lábios... Lábios molhados. Traiu-me. Deitou-se com outra, a sua amiga. Felonia? Depois deu pro Beto; e pro Piti, deu no chuveiro. Vagabunda! Sei de tudo! Contaram-me! Eu sei! Eu corno! “Eles passarão... Eu, passarinho”. Sob a marquise me protegi porque a chuva apertou. Elas, as pessoas, cruzavam por mim sem me notar, ou se faziam. De certo tinham medo porque, talvez, eu viesse a agredi-las, assaltá-las, estuprá-las. Fazia frio! Muito frio!

sábado, abril 03, 2010

ESCRITA GRUNGE


Em pleno “aperfeiçoamento” da escrita grunge surge a unificação da língua portuguesa. Não vai dar certo!
A escrita grunge é, na verdade, a evolução natural da escrita fonética que já teve seus anos de glória e foi cedendo lugar por conta das novas formas de comunicação escrita, oral e visual.
Visual porque não é raro vermos imagens pequenas no canto do vídeo mostrando alguém traduzindo a fala do apresentador através da linguagem dos sinais, fato que atraiu boa quantidade de novos assistentes.
A comunicação oral - quer expressando-nos para uma platéia, quer contando uma vantagem na mesa do bar, não é tarefa fácil para muitas pessoas, mas ainda é a forma mais direta de comunicação e não exige muitos cuidados porque errar, neste caso, fica por conta do improviso do momento.
Mas, escrever é o problema!
Com a chegada da internet a comunicação adotou nova medida de velocidade e tempo, ou seja: megabaites – na ultrapassada escrita fonética, ou mb – na escrita grunge.
Você é vc; porque é pq; espera aí é peraí.
Estamos nos habituando à escrita grunge por causa da necessidade de estabelecermos uma comunicação veloz e com duas ou três pessoas ao mesmo tempo.
E nos entendemos perfeitamente!
Resumindo: a unificação da língua portuguesa servirá como incentivo ao pleno desenvolvimento da escrita grunge, pois ortografia e gramática estão sendo abandonadas pelos estudantes que escrevem, não em cadernos pautados, mas através de infovias e inforedes.
Bom será para editoras e gráficas...
E os professores de português continuarão ganhando a mesma merreca.
Pelo menos, o português do Brasil é a matriz.
Té +...


sexta-feira, abril 02, 2010

“A inspiração vem com o vento” (Érico Veríssimo)


Quando me perguntam de onde vem inspiração para criar um projeto de arquitetura, o design de uma cadeira ou como vem idéia da imagem deformada de um objeto na arte digital ou ainda como surgem os primeiros acordes de uma música, eu me lembro da explicação que o escritor gaúcho, Érico Veríssimo, encontrou para justificar de onde vinha tanta inspiração para os seus maravilhosos textos.
O fato é que, quando decidi aventurar-me na arte de escrever, deparei com uma folha em branco  como em tantas outras vezes me encontrei ao iniciar um desenho de um edifício, por exemplo.
Aceitei o desafio daquela folha vazia, e descobri um enorme prazer em escrever, dialogar, imaginar, descrever e interagir com personagens bons, maus, poderosos, insensíveis, velhos, moços, etc...
 Eu viajo, vejo ilhas, praias, sol, chuva, cenas e cenários que provocam minha imaginação durante horas.
É uma experiência singular e deliciosa.
É como quando se lê um livro estando dentro dele.