segunda-feira, dezembro 28, 2009

HÁBITOS ACUMULADOS




Tenho um hábito (entre tantos que se acumularam com o passar dos anos ) de ler dois ou três livros intercaladamente.
E quando tenho nas mãos um romance histórico ou que trata de História do nosso Mundão, o bicho pega!
E desta vez estou relendo HAVAÍ, de James A. Michener, UMA BREVE HISTÓRIA DO MUNDO, de Geoffrey Blainey e A MÃO E A LUVA, de Machado de Assis.
Hábito que tenho é procurar auxílio no mapa-múndi.
Acabei pedindo – e ganhando – de presente um globo terrestre, desses que ficam sobre a escrivaninha e que giramos e chafurdamos a procura dos lugares citados nos textos.
O mais novo hábito que incorporei à minha lista eu adquiri quando, ao ler HAVAÍ, encontrei uma web radio especializada em musica havaiana.
Ler aquelas passagens que descrevem com tal realismo os cenários havaianos e ouvir a musica que embala aquela cultura é uma experiência interessante.
Com relação a Machado de Assis terei ainda que procurar por uma web radio que toque maxixe.

terça-feira, dezembro 15, 2009

A IRONIA DO ARGUMENTO E A FACA DE COZINHA

A ironia foi a maneira que Caco encontrou para tentar dar um fim àquela discussão.
Os bate-bocas, dignos em quantidade para fazer parte do Guinness, poderiam ter se encerrado com os argumentos de Caco quando propôs a sua mulher que, se ela emagrecesse 20 quilos, ele não beberia mais cervejas do que a cota social permitisse, deixaria o cigarro de lado e abandonaria a vida boêmia.
De nada adiantou, pois a baixinha-gorducha – como ele descrevia sua própria mulher – ao ouvir a proposta, transformou-se numa fera. Afinal ela não se via enquadrada naquele estereótipo, pois, longe do espelho, ela se achava com boa altura e somente um pouco acima do peso.
Ela então decretou que se ele seguisse bebendo, fumando e boêmio, não permitiria mais noites nem dias ou tardes de sexo; a cama de casal seria só dela. E foi mais longe ainda ao determinar que Caco se arranjasse num hotel, motel, casa de amigos ou até que dormisse no carro.
No artigo segundo a baixinha irada determinou que Caco não pudesse dormir com outra mulher, pois se ela descobrisse a traição, a faca de cozinha seria usada como instrumento para extirpar certo símbolo fálico.
Porém, esta ameaça não o incomodava. Ela jamais descobriria casos de adultério. Caco considerava-se um expert se bem que, ultimamente, o desejo andava meio em baixa, mas não morto.
Mesmo assim ele sempre tentava, através de carinhosos convites, ver sua mulher acompanhando-o nas incursões por pizzarias, bares e pubs, mas, repetidamente, as mesmas condições eram impostas pela gorducha.
Ele jurava nunca ter aprontado. É certo que às vezes se excedia um pouco na bebida, o que fazia dele um falastrão inconveniente: falava muito alto, quase aos gritos. Ria, gesticulava e batia no ombro dos ouvintes exageradamente.
Numa sexta-feira, na metade da tarde, Caco ligou para o celular de Celinha – a gorducha-baixinha – com o firme propósito de levá-la, à noite, a um bar alternativo. Antes passariam pela pizzaria de costume para jantar com amigos e depois os dois iriam para o bar ouvir blues, leitura de contos e esquetes.
Na imaginação de Caco, depois das canjas que sempre aconteciam no palco daquele bar, e já com o dia quase amanhecendo, ele estaria entrando em casa levando sua gorduchinha nos braços e então se enroscariam nos lençóis até que adormecessem exaustos e satisfeitos de tanto amor.
Mas, tão logo Celinha quis saber das cervejas e cigarros, Caco sentiu, mais uma vez, que não tivera sucesso na investida.
Para piorar ainda mais a desfeita ela indicou a garagem da casa como dormitório, o banco do carro como cama e, se ele escolhesse um motel e uma loira oxigenada como companheira, a faca de cozinha estaria bem afiadinha. Ameaçava-o dizendo que a castração poderia acontecer de surpresa enquanto ele estivesse bêbado de cerveja, cheirando a cigarro e com o perfume barato daquela puta impregnado na cueca.
Na verdade, Celinha não aceitara a proposta de perder os 20 quilos, nem 10, nem 5; talvez dois ou três.
Caco, por sua vez, não deixaria a boemia, os cigarros e a cerveja.
E aconteceu o inesperado.
Naquela madruga, 4 horas de sábado, Caco arrependido pelos exageros resolveu, como todo o bêbado depois de beber vários copos e fumar duas carteiras, que deixaria os vícios a partir do dia seguinte.
Falaria com Celinha e as coisas ficariam acertadas. Começaria a fazer caminhada, musculação e talvez até passasse a freqüentar restaurantes especializados em cozinha macrobiótica.
Assim decidido foi pegar o carro no estacionamento a fim de seguir o caminho de casa. Dormiria na garagem sem maiores dificuldades. Depois procuraria por sua baixinha, pediria desculpas, dois ou três beijinhos, promessas, um beliscãozinho na bunda dela – que ele já não pensava ser tão gorducha – e depois sexo na cama, na cozinha, na sala e iria aonde ela quisesse. Uma viagem faria bem para eles, pensava Caco em meio à vertigem do álcool.
No estacionamento, Caco teve dificuldades para acionar o alarme.
Foi então que uma loira alta usando saia tão curta que deixava a calcinha vermelha à mostra surgiu para socorrer nosso amigo.
Caco ficou entusiasmado com tanta mulher à disposição. Por um instante esqueceu-se das promessas que fizera minutos atrás e prontamente aceitou a ajuda.
Alertado pela enorme loira sobre possíveis blitz com bafômetros, Caco alcançou a chave do carro para que ela dirigisse. Informou o endereço de casa e partiram.
Durante o trajeto Caco tentou, sem sucesso, apalpar as longas pernas da loira perfumada, mas ela se esquivava e pedia para que ele parasse com as investidas, pois poderia provocar um acidente ao desviar a atenção.
Ao chegarem à casa de Caco e já com o carro pronto para acessar à garagem ele conseguiu enfiar a mão entre as pernas da loirosa que, perdendo a atenção, projetou o carro contra a porta da garagem.
Por causa do estrondo da batida, a baixinha-gorducha acordou e, em segundos, estava ao lado do carro.
Nas mãos ela trazia a faca de cozinha afiada como prometera.
Caco tentava explicar a situação e o acontecido. Foi terrível ver os olhos saltando das órbitas da gorducha.
A loira, nervosa com tudo aquilo e vendo a faca sendo apontada para o meio das pernas de Caco, teve que agir e, esquecendo-se da condição de travéco, tirou os sapatos de salto e saiu em disparada rua abaixo.
Quanto ao nosso amigo Caco eu soube que ainda está internado no hospital convalescendo depois de demorada cirurgia de reconstituição.
Celinha, dizem já ter perdido 8 quilos na penitenciária feminina.