quinta-feira, agosto 16, 2007

A SAGA DE UM ITALIANO

O conto "A SAGA DE UM ITALIANO" é parte integrante do material publicitário de um lançamento imobiliário. O livro com o conto e o folder contendo informações sobre o projeto arquitetônico serão entregues aos clientes no lançamento das vendas do empreendimento.


DEPOIS DO ALMOÇO...

Os “depois do almoço” sempre foram agradáveis. Gino, um italiano alto e gordo, baixava os suspensórios dos ombros largos, levantava-se do lugar privativo na cabeceira da mesa para seis pessoas, batia com as duas mãos na barriga e ia para a sala. Esse era o sinal que indicava o fim das refeições na casa dos Longgi. A cozinha era o local de encontro da família. Ali eles comiam, rezavam, cantavam, choravam e brigavam. Angelina, a mãe, também italiana da região de Emilia – Romagna passava o tempo em volta do fogão a lenha e ocupada com as roupas e a saúde dos filhos Oscar e Nelson.
Gino Longgi era nascido na região de Trentino – Alto, no norte da Itália.
Aos dezoito anos emigrou para o Brasil em busca de uma vida melhor. Era março de 1877.
Antes de embarcar no navio, na Itália, viajou durante o rigoroso inverno europeu a pé ou conseguindo carona em carroças. Dependeu da generosidade dos conterrâneos para se alimentar com a ração mínima que um ser humano poderia suportar para sobreviver.
Assim chegou até o Porto de Gênova de onde partiam os navios a vapor levando a gente simples e sofrida que, sem trabalho na terra natal, não encontrava outra alternativa a não ser ir para o Brasil.
Durante o tempo em que esteve no cais do Porto de Gênova, tratando de se habilitar e atender às exigências legais do serviço de emigração, Gino ouviu muitas histórias sobre a vida no Brasil. Contaram-lhe que não se tratava de todo aquele esplendor que os agentes brasileiros falavam. Soube das dificuldades pelas quais passavam os italianos nas fazendas de café dos paulistas e da truculência dos patrões com relação aos colonos.
Depois de uma semana, Gino obteria o visto de embarque. Dentro de dois dias o vapor partiria. O destino era o Porto de Rio Grande, no sul do Brasil de onde viajaria para um lugar ainda não sabido.
Na hora do embarque as pessoas se acotovelavam na entrada da rampa que dava acesso ao navio. Todos, sem exceção, tinham estampado no rosto e nos olhares assustados, o medo de, na última hora, perderem a oportunidade de subir no vapor.
Com Gino não acontecia diferente. Mas a fome era aquilo que mais o incomodava. Não comia há dois dias. Somente ingerira água e comera pão que lhe fora oferecido por uma senhora que lhe trouxe à memória a imagem da mãe aos prantos quando ele partiu da “comuni”, em Trento. Gino perdera o pai aos sete anos. Era filho único. A mãe não quis acompanhá-lo na viagem. Faltou coragem. Ficou na Itália morando com um parente.
Gino embarcou. O apito do navio fez eco em toda área portuária. Durante as duas ou três semanas seguintes o deck do vapor seria a sua casa. A próxima parada aconteceria no Rio de Janeiro. Outros barcos zarpariam para Porto Alegre e depois o Porto de Rio Grande.


O BRASIL

Gino Longgi desembarcou no Brasil numa manhã de Domingo de dezembro de 1877. O calor era muito diferente do clima do verão em Gênova.
Certa vez ele necessitou ir ao porto italiano em busca de uma oportunidade como marinheiro ou mesmo braçal. Poderia trabalhar como estivador, porém ainda muito jovem, não conseguiu a vaga e teve que retornar para Trento, desempregado!
Nos dias em que esteve transitando no cais de Gênova pode sentir o clima mediterrâneo, com verões quentes e secos. Agora, na América, provava o calor elevado e muito úmido.
A barriga conseguira enganar por conta da cota de ração que os agentes brasileiros distribuíram durante a viagem. Perdera cerca de seis quilos e provavelmente, quando chegasse ao destino determinado no contrato que assinara na Itália, deveria estar com dez quilos a menos.
Os próximos quatro dias de viagem aconteceriam em cima de carretas tocadas por juntas de bois, cobertas por lona e lotadas com homens, mulheres e crianças. O destino seria um vilarejo localizado ao pé da serra.
Gino era um garoto. Recém completara 18 anos. Não tinha tempo para sentir saudade da mãe e de uns poucos amigos de Trento.
As carretas estacionaram em frente à porteira de um sítio localizado próximo a sede da Vila do Bugre, no Vale do Burati, no sul do Brasil. O cocheiro desceu para abrir a cancela que dava acesso à estrada de terra. Os cães latiam sem parar. Era final de tarde e o sol já não iluminava a mata em volta.
Gino ouviu pela primeira vez sons que jamais esqueceria. Eram pássaros que piavam procurando o melhor lugar para passar à noite e felinos rugindo ameaçadoramente. Mas o mais impressionante foi o som rouco dos bugios gritando como que para informar que o local era posse deles. Ele olhava para a copa das árvores. Nada via além de galhos balançando apesar da falta de vento. O clima permanecia úmido e abafado.
Agora dentro de um enorme galpão o cheiro de pasto armazenado fermentando por causa do calor e o forte odor de urina e excrementos de vacas e porcos denunciavam estarem dentro de um celeiro ou de uma estrebaria.
A lona que cobria a carreta na qual viajara se abriu; um homem enfiou a cara e ordenou, em italiano, que todos descessem e ficassem lado a lado.
Ele se identificou como capitão Jacinto, agente colonial responsável pela apresentação dos colonos ao diretor daquela Colônia Provincial.
A região era muito pobre; o terreno muito acidentado e debaixo da terra encontravam-se extensas camadas de basalto. A natureza exuberante apresentava vales que se abriam logo ali em frente e que eram abastecidos pelas águas dos arroios tributários dos Rios das Antas e Caí.


A COLÔNIA PROVINCIAL

Quatro meses se passaram desde que Gino Longgi chegara à Colônia Provincial.
Inquieto e insatisfeito com as condições de saúde e de trabalho ele foi para um lugar denominado Poço das Antas.
A viagem se deu por caminhos quase intransitáveis. Por lá tentou trabalhar como agricultor pelo tempo de seis meses. Sem obter melhora Gino decidiu abandonar a colônia e tratar de sua sobrevivência pelas próprias forças. Não queria mais depender de agentes provinciais.
Como não mais produzia perdeu a concessão como colono. Ele não se importou. Rumaria para a Colônia Caxias, lugar muito próspero e no alto da serra. Viajou em carretas e depois de três dias transitando pelo meio da mata, sentindo frio, sede e fome, chegou ao vilarejo.
Lá, dois ou três anos atrás, instalaram-se em torno de 110 famílias tirolesas, bergamascas, venetas e cremonesas.
Gino, um jovem cheio de saúde e que escapara da varíola, não encontrou dificuldade para obter trabalho. Foi aceito como aprendiz de ferreiro em uma selaria.
Morava nos fundos do estabelecimento em um pequeno quarto. O banheiro externo era utilizado pelos empregados e as refeições servidas em outro galpão ao lado da oficina onde ficavam as bigornas e o forno.
D. Antonia, 38 anos, cozinhava e colocava nas bandejas a comida para os dez empregados. Era a esposa de Giuseppi Tostti, 44 anos, o proprietário. O casal não tinha filhos.
Após seis meses trabalhando e aprendendo o ofício de ferreiro, Gino tornou-se membro da família Tostti sendo convidado a ocupar o quarto que ficava no sótão da casa. Era tratado como um filho. Antonia revisava e costurava as poucas camisas e as duas calças de Gino. Ganhou botas de cano curto novas e um colete de couro no dia em que completou 19 anos.
Giuseppi e Antonia eram extremamente religiosos e foram até a Capela de Santa Lucia para conversar com o Padre Carlo. Como haviam adotado o rapaz queriam que ele recebesse a benção como novo membro da família dos Tostti. O padre pediu que Gino ajoelhasse em frente ao altar e, colocando a mão direita sobre a cabeça do rapaz, falou algumas coisas em latim, fez um enorme sinal da cruz com a mão esquerda elevada, abençoando-o.
- Bem, signor Giuseppi e dona Antonia. Gino está sob a proteção do manto sagrado da Igreja Católica, Apostólica e Romana. Podem seguir suas vidas que Deus estará sempre ao lado das pessoas de paz.
Assim Gino encontrou um lar. Participava dos encontros sociais com a nova família e, no dia da Festa de São Vito, conheceu Angelina com quem casaria anos mais tarde.
Angelina era uma italianinha de cabelos loiros cacheados. Tinha 18 anos e chegara da Itália, da região de Emilia – Romagna, com o pai Julio Durano, viúvo de Maria de Lurdes que morrera de varíola logo que chegou à colônia provincial Conde d’Eu, em 1870. O signor Durano cuidava da videira que cultivava em sua terra próxima do lote dos Tostti. Ali ele produzia vinho, salame, queijo e suco de uva para a própria subsistência.
A Festa de San Vito propiciava encontros entre os imigrantes que vinham das colônias próximas. Cada família colaborava com algum prato típico e vinho.
O Padre Carlo era responsável pela abertura da Festa que acontecia, oficialmente, logo após o fim do ato religioso que ocorria na praça do vilarejo. Depois da benção final na capela o religioso se deslocava acompanhado pelos fiéis até a o centro da praça onde estava o coreto. O primeiro gesto era abrir a gaiola da qual saiam seis pombos brancos que simbolizavam a liberdade e a paz.


GINO E ANGELINA – JUNHO DE 1883.

Desde aquele dia de San Vito, em junho de 1878, Gino e Angelina não se separaram mais. Cinco anos depois no dia do aniversário de Gino, quando ele completou 24 anos, casaram-se. Construíram um pequeno chalé de madeira nos fundos do lote de Julio Durano, o pai dela, onde passaram a lua de mel. Não tinham como viajar.
As estradas eram precárias e também não cultivavam o hábito de se afastarem dos familiares por muito tempo. Os colonos italianos preferiam a vida em família e a religiosidade.


GINO, ANGELINA E CAXIAS – JUNHO DE 1910.

Gino Longgi, então com 46 anos, fechava a porta de entrada de seu armazém de secos e molhados e Angelina, agora com 45 anos, e os dois filhos do casal – Oscar e Nelson – de 10 e 12 anos aguardavam impacientes na frente do estabelecimento comercial.
Nessa época, Gino comercializava aqueles produtos que antes produzia somente para subsistência da própria família. No armazém vendia o vinho produzido na videira de sua propriedade na zona rural, salame, queijos, feijão, arroz, milho e alimentos em geral.
O “Armazém Longgi” seria ponto de referência na cidade.
Os quatro seguiriam para a praça central lugar onde aconteceria o ato de assinatura do documento oficial que elevava Caxias à categoria de cidade.
Neste mesmo dia chegava o primeiro trem à cidade, ligando a região à capital do Estado. A estrada de ferro daria um impulso desenvolvimentista à Caxias porque abria a porta para que imigrantes de outras regiões se deslocassem em busca de trabalho.
O espírito empreendedor e a disposição para o trabalho daquele povo fariam a cidade crescer rapidamente.

A VINÍCOLA E OSCAR LONGGI

Atento aos acontecimentos Gino Longgi, aproveitando-se do prestígio que possuía junto ao comércio e aos bancos, abriu a sua própria vinícola. Com incentivos oficiais ganhou terreno e isenção de impostos, fato que viabilizou a construção da sede da “Vinícola Trentino – Alto” nome escolhido em homenagem à região da Itália de onde ele viera há 35 anos.
Assim em junho de 1912 a população pode conhecer as instalações da vinícola que já nascia com a produção de vinhos tintos vendida para o comércio da região.
Oscar, o mais velho dos dois filhos da família Longgi, trabalhava com o pai no armazém desde os 12 anos. Fazia as entregas aos clientes em uma bicicleta adaptada com dois balaios de vime. Durante o período da construção da vinícola, cuja obra fora erguida ao lado armazém, Oscar acompanhava cada metro quadrado que se erguia.
Quando se deu a inauguração Oscar pediu ao pai licença para trabalhar na vinícola deixando livre a vaga de entregador que seria de seu irmão Nelson.
Então Oscar, com 14 anos, foi atuar no setor da produção na área de desembarque da uva que vinha da colônia.
Quando completou 20 anos, Gino colocou seu filho no cargo de vendedor. O ano era 1918.
Dez anos depois, em 1928, Oscar com 30 anos, era o gerente comercial da Vinícola Trentino–Alto. O vinho produzido era de excelente qualidade e ganhara dois prêmios concedidos pela Associação Comercial de Caxias.


GINO LONGGI – 64 ANOS; ANGELINA TOMASI LONGGI – 63.

Num Domingo de inverno, Angelina avisou que o almoço estava servido.
Oscar, sua mulher Emilia e o filho Pietro de quatro anos, Nelson e a esposa Isa, grávida de três meses e o “Nono” Gino conversavam em volta do fogão a lenha da cozinha da casa do patriarca da família Longgi.
Angelina, a “Nona Gina” como os filhos a chamavam, sentia-se uma mulher realizada.
Aos 63 anos e gozando de uma saúde de ferro era capaz de sair da cama antes das seis da manhã, mesmo em dias de rigoroso inverno na região serrana, e cuidar da criação de coelhos e galinhas, bem como da pequena horta que cultivava nos fundos do lote do sobrado erguido com pedras de basalto cuidadosamente cortadas. A casa ficava na cidade.
Deixara a colônia há alguns anos para acompanhar o marido que precisou vir para a sede do município em função do armazém e depois dos negócios na vinícola. Os Domingos eram a sua maior alegria. Os filhos, o neto e as noras enchiam a casa de risadas e cantorias e faziam-na sentir-se útil. Porém, durante a semana, o sobrado era tomado pelo vazio do silêncio.
No sótão, onde ficavam os dois quartos de Oscar e Nelson, Angelina tirava o pó dos móveis e varria o chão todos os dias como se os filhos ainda morassem com ela. Ainda ouvia o barulho das brincadeiras dos bambini; e toda vez ela chorava de saudade; lágrimas do silêncio, da falta! Antes de voltar para a beira do fogão, como um ritual, ajoelhava-se em frente ao pequeno santuário que ficava no corredor, na descida da escada, e rezava pedindo saúde aos filhos, noras, a Pietro e ao marido. A imagem de Santa Lucia fora trazida da Itália e Angelina, devota, encontrava o conforto espiritual sempre que se sentia chorosa.
Gino sentou-se à cabeceira da mesa e Oscar, à direita, cortava fatias de copa, pedaços de queijo parmesão e salame. Bebiam um tinto de mesa da própria vinícola.
No rótulo lia-se: “Vinho Tinto Seco – safra 1926 – Vinícola Villaggio Trentino – Alto -Caxias do Sul – RS”.
Nelson e Isa auxiliavam Nona Angelina com as travessas com spaghetti al pesto, polenta, frango al primo canto e salada de rúcula com pedacinhos de bacon.
Angelina já colocara o prato com salada de maionese e o pão caseiro sobre a mesa que era coberta com uma toalha de linho branco imaculado.
Pietro era a figura mais importante naquele almoço em família. As atenções se voltaram para o garoto assim que ele pediu ao Nono Gino para beber o vinho servido na taça de cristal. Pacientemente o avô explicou ao neto que ainda não era o momento certo para beber.
Era um verdadeiro encontro de italianos: comida típica, bom vinho, a conversa franca, alegria e paz.
Como no início da refeição repetiram o agradecimento a Deus pela mesa farta, pelo pão e o vinho que haviam saboreado.
Gino baixou os suspensórios, levantou-se, bateu com as duas mãos na própria barriga e foi para o quarto. Pediu, discretamente, que Angelina o acompanhasse.
Ao sinal do marido ela largou o pano de prato que segurava junto a pia e o seguiu.
- O que aconteceu, Gino?
- Não sei. Não me sinto bem!
- Procure dormir um pouco, descansar. Você quer chá? Posso preparar uma xícara de chá de funcho.
- Sinto tontura. Vou deitar um pouco. Não diga nada aos bambini. Vai passar. É só uma dorzinha de cabeça.
Angelina foi até a janela que se abria para o jardim a fim de fechar fechar a cortina.
Um pinheiro fora plantado por Gino logo que a construção da casa foi concluída, anos atrás.
- Deixe a cortina aberta - pediu Gino. - Quero ver os galhos balançando.
O dia era tipicamente de inverno na serra. O céu encontrava-se totalmente encoberto por grossas nuvens de um cinza chumbo; o vento frio soprava constante e a forte umidade penetrava pelos poros. Gino sentiu os pés e as mãos gelados. Ajeitou o cobertor de lã e fixou o olhar nos galhos que jogavam de um lado para o outro.
Viu-se menino no colo da mãe; lembrou da casa em Trento e das brincadeiras com os amigos. Agora se via na Festa de São Vito pegando a mão de Angelina. Sentiu mais frio; tremia um pouco. O olhar acompanhava o balanço dos galhos do pinheiro que pareciam estar encobertos por uma neblina leve. Ouviu distante o som do primeiro choro de Oscar quando do nascimento, no quarto que ficava nos fundos do armazém, quando recebeu dos braços da parteira o filho recém nascido.
Do outro lado da janela surgiu a imagem de Santa Lucia com os braços esticados em sua direção.
- Por que me chamas Santa Lucia?
- Venha comigo, Gino. Deves me acompanhar até a morada de Deus.
Gino levantou-se devagar se sentindo flutuar. A intensa luz ofuscava-o, mas apesar disso seguiria o rastro de luz deixado pela Santa. Ainda olhou para trás e viu a família reunida na cozinha onde, por tantos anos, viveram momentos de felicidade e paz.
As lágrimas correram pelo rosto de Gino. Continuaria feliz, certamente.
Ele pediu desculpas à Angelina pela inesperada viagem que estava se iniciando, beijou a testa dos filhos, das noras e ainda sentou Pietro no colo dando-lhe um carinhoso beijo passando a mão pelos cabelos loiros cacheados, como eram os da jovem Angelina quando a conhecera na Festa de São Vito.
Por último colocou a mão direita sobre a barriga da esposa do filho caçula Nelson como que dizendo: “o Nono Gino estará te acompanhando e te protegendo, pequena Emilia”. Olhou em volta, sentiu o cheiro da casa e seguiu sua viajem.
Angelina saíra preocupada do quarto e fora preparar o chá de funcho que oferecera ao marido.
Os filhos e as noras continuavam à mesa conversando sobre crianças e fazendo planos para o futuro e decidiram que hoje, quando Nono Gino acordasse da sesta, iriam sugerir que ele se aposentasse. Na verdade Gino merecia ficar em casa e dedicar-se ao trabalho com menos freqüência. Seria uma espécie de recompensa pelos árduos anos de labuta.
Na avaliação dos filhos o pai passara por muitas dificuldades desde que chegara de Trento, aos 18 anos. Tudo que tinham foi por conta do sacrifício e trabalho do patriarca. Que ele ficasse em casa com a mãe Angelina ou viajasse para o centro do país, de férias.
A mãe ouviu a conversa e prontamente aprovou a sugestão de Oscar.
- Seu pai precisa trabalhar um pouco menos. Está com 64 anos e já não tem mais a saúde de um giovani. – E seguiu arrumando a xícara na bandeja aguardando que água fervesse na chaleira de ferro fundido que descansava sobre a chama do fogo do fogão a lenha.
Angelina perdeu o olhar entre as pequenas labaredas e fagulhas que se soltavam da boca do fornilho onde a lenha era colocada. Subitamente sentiu um arrepio que lhe percorreu o corpo. Esfregou a mão no braço, pensou em Gino e em Santa Lucia e rezou em silêncio pedindo que Santa protegesse o marido de todo e qualquer mal.


O CHÁ DE FUNCHO

Angelina voltou do fundo do lote onde fora apanhar alguns galhos de funcho. O vento estava mais forte e uma chuva fina molhou os cabelos agora brancos.
Colocou pedaços dos galhinhos dentro da chaleira e logo se podia sentir o cheiro que exalava do líquido fervente. Com a xícara pela metade dirigiu-se para o quarto.
Depois de alguns minutos, ao ouvir o barulho da xícara quebrando ao cair no chão, Oscar levantou-se rapidamente. Ao se aproximar ele encontrou a mãe Angelina ajoelhada ao lado da cama segurando a mão do pai. Oscar procurou consolá-la ao perceber que o pai estava morto.


OS SONHOS DO MENINO.

Angelina caiu em profunda tristeza e não suportando a ausência do companheiro morreria dois anos depois.
Oscar seguiu no comando da Vinícola Trentino – Alto e Nelson fundaria a Construtora Longgi, em 1940, que se destacaria como uma das mais potentes no ramo imobiliário da região da serra.
Os sonhos que o menino Gino Longgi tivera no deck do navio em 1877, quando deitado no chão olhava para o céu estrelado, aconteceram além da conta.
Hoje, na entrega da mais importante obra da Construtora Longgi, Nelson se lembrou da figura do fundador do Grupo Longgi, contou a saga do pai e da importância da mãe Angelina na estrutura da família e deu por inaugurado o Condomínio Villaggio Trentino – Alto baseado na bela temática italiana.

2 comentários:

  1. De descendência italiana e com a dupla cidadania em processo (parece que vai levar mais 4 anos...) sempre cultivei algumas tradições italianas, seja por intermédio dos meus avós ou meus tios de Caxias ou Farroupilha e fiquei felizmente surpreso por essa idéia do Cond. Villagio Trentino que traz essa história e consagra ainda mais a cultura desse povo.
    Parabéns a todos os envolvidos.

    Abraço

    Joe Sperafico Jr.

    ResponderExcluir
  2. Olá, Joe.
    Obrigado pela visita e comentário.
    E tu és um dos envolvidos. Parabéns!
    Abraço.

    ResponderExcluir