sábado, março 06, 2010

CROONER BY DIJEYLSON

Mania é a forma adiantada do hábito, ou ainda, é o estágio final de uma situação que começou com um simples hábito e chegou ao extremo quase doentio de uma mania. 
Mas, Dijeylson não via desta forma. 
O nome o incomodava, porém não tinha como deixar de se apresentar às pessoas, segundo ele justificava, falando essa aberração de nome como ele fazia questão de qualificar, e explicava culpando o pai pela infeliz ideia. 
Ele não era um cara velho, se é que as manias e os hábitos são coisas exclusivas dos velhos. Tinha 50 . 
Das manias que o tiravam do sério, duas eram as suas favoritas: ficar preso em engarrafamento e vocalista de banda cantado música com letra em inglês sem saber falar razoavelmente bem. 
Numa ocasião, Dijeylson, que era um notívago e apreciador de bons estilos, decidiu que iria, afinal, ao pub escolhido pelos parceiros de blues e jazz. 
O bar ficava na zona sul da cidade. 
Depois de encerrar suas atividades no escritório, arrumar a mesa de trabalho, esvaziar a lixeira - inclusive a do lavabo da recepção -, fechar janelas e portas e baforar o ambiente com o cheiro de ervas da natureza, ele seguiu para casa; a pé, evidentemente, pois, a fim de evitar o transtorno dos engarrafamentos da hora do pico, escolhera morar ao lado do prédio onde tinha o seu escritório. 
O apartamento ficava no sexto andar, longe dos ruídos do trânsito da avenida. Era pequeno e todas as janelas abriam ao  leste para melhor aproveitar a insolação. Ele não usava o elevador; ia de escada para exercitar os músculos e, na verdade, para evitar encontrar-se com aquela vizinha do sétimo andar. A mulher tinha dois filhos; a menor, criança de 6 meses, chorava sem parar e sem ter a devida atenção daquela “mocreia”, como ele alcunhara a vizinha do andar de cima. 
O horário previsto para a saída de casa era cronometrado. Como depois das oito da noite o trânsito tinha menor número de veículos, e como o trajeto até o pub deveria necessariamente passar pela rodovia que margeava a cidade, Dijeylson, pontualmente, acessou a estrada as oito e sete daquela quinta-feira. O plano era chegar em quinze minutos. 
Deu merda! 
Por causa de obras de pintura da pista, um enorme engarrafamento estava bem ali, a sua frente. Os carros passavam somente por uma das pistas que havia sido liberada. O sangue ferveu, o ânimo desceu e restava esperar a vez. 
Ele ficou explicando para si mesmo, em voz alta, como aquelas obras deveriam ser executas; definiu o melhor horário e falou mal de todos os ancestrais dos engenheiros, diretores e o raio que o-parta daquela empresa incompetente, não se esquecendo de fazer as piores avaliações aos políticos corruptos que liberaram as verbas mais as propinas que, certamente, estavam embutidas naqueles serviços de pintura. 
Passados 30 minutos naquele engarrafamento, Dijeylson conseguiu estacionar o carro próximo ao pub. Conversou com o segurança pedindo atenção especial, prometeu gorjeta e logo ele estava no palco.
Ele era o vocalista da banda que naquela noite faria o show.
O espetáculo transcorreu normalmente até o intervalo do primeiro bloco. 
Foi quando um dos assistentes se aproximou, identificou-se como Charles Fender, de Chicago, disse, falando em inglês, que morava no Brasil havia dois meses, que gostava de blues, que era professor de inglês e entregou um cartão de visitas, no qual  dizia ser ele professor especializado em aulas de conversação e dicção. 
“Nada pessoal”, justificou Charles, mas gostaria de colaborar, inclusive, sugerindo um nome artístico, pois “Dijeylson” soava muito mal.

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