sexta-feira, janeiro 18, 2008

ESTRANHAS SENSAÇÕES

Dois acontecimentos que vivi nos últimos dias me fizeram sentir estranhas sensações que acredito transformarão conceitos ou preconceitos que tenho.
Melhor dizendo, verei certas coisas de forma diferente. Pode alguém pensar que é asneira ou exagero meu.
Explico.
O primeiro fato se refere ao analfabeto, àquele que não sabe ler as letras expressas, por exemplo, na placa que informa o destino do ônibus.
Senti-me como um analfabeto ao abrir a página de uma revista especializada em musica quando não consegui ler a partitura para iniciantes que explicava como executar uma simples canção.
Antes de tudo senti um tipo de raiva contra mim mesmo. Fiz enorme esforço. Tentei por raciocínio lógico, por comparações visuais entre aquelas bolinhas pretas ligadas por linhas e que pulavam de um lugar para o outro, subiam depois desciam, se ligavam e eu sem entender nada.
Depois senti vergonha por não saber ler aquilo. Mais adiante senti um vazio sem explicação...
Lembrei das aulas de “orfeão” ministradas pela Dona Neli, a professora do primário. Ela me ensinou algumas coisas sobre partitura. Eu sabia escrever uma clave de sol... Mas não passou disso. Esqueci e permaneci analfabeto.
A sensação de desconforto aumentou mais ainda quando pensei naquelas pessoas que assinam com o polegar lambuzado de tinta. É humilhante!

O segundo acontecimento ocorreu ainda hoje pela manhã.
Atropelei um cachorro – e dos graúdos – quando eu trafegava pela BR 116. O cão apareceu do nada. Freei, porém não deu tempo para desviar. O bichinho bateu no pára-lama do meu carro, rodopiou e, desnorteado, ficou por alguns segundos arrastando-se na pista. Os olhos do animal fixaram-se nos meus que, a esta altura, estavam mais arregalados que os olhos verdes do cachorro com pelagem castanha e lisa.
A troca de olhares estabeleceu um vínculo de afeto. Pareceu-me que ele pedia explicações e eu, perguntava se estava tudo bem. Estranha sensação. Um ser humano e um animal vivendo experiências tão intensas.
A seguir o bichinho se levantou e saiu correndo para a calçada.
Eu acelerei o carro e segui em frente, afinal estava eu numa rodovia e não poderia ficar ali parado sob pena de ser abalroado por outro veículo. Esta é a desculpa para a fuga!
Não prestei socorro e este fato me incomoda até agora. Estará em boas condições aquele cão? Teria ele quebrado uma perna ou costela? Hemorragia interna talvez? Estará morto na calçada? Ou pior: agonizando? E o afeto? Esqueci?

Duas sensações estranhas que ficarão comigo até que o tempo me ajude a entender melhor a vida.

4 comentários:

  1. Fosse eu a motorista, estaria em estado catatônico até agora.
    Sobre "analfabetismos", o pior de tudo deve ser a sensação de uma quase cegueira pela qual passa o analfabeto. Ninguém merece isso.

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  2. E assim vamos em frente a carregar algumas culpas que não temos, a fazer e desfazer afetos. Somente em situações limites aprendemos a jogar a bola da vez, deixar a jogada passada no arquivo e sem grandes planejamentos de longo prazo. O tênis ensina isso muito bem, para que consigamos bater a bola do momento, esquecidos da façanha espetacular, das medíocres performances das jogadas anteriores, desligados do desate da contenda. Bola pra frente, de preferência no lugar onde o adversário não alcance! Jerônimo.

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  3. E assim vamos em frente a carregar algumas culpas que não temos, a fazer e desfazer afetos. Somente em situações limites aprendemos a jogar a bola da vez, deixar a jogada passada no arquivo e sem grandes planejamentos de longo prazo. O tênis ensina isso muito bem, para que consigamos bater a bola do momento, esquecidos da façanha espetacular, das medíocres performances das jogadas anteriores, desligados do desate da contenda. Bola pra frente, de preferência no lugar onde o adversário não alcance! Jerônimo.

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  4. Dos 9 aos 20 anos e depois, dos 30 aos 45 anos, pratiquei incessante este maravilhoso e ao mesmo tempo cruel esporte que é o tênis.
    O joelho direito me afastou das quadras - dizem alguns dos meus parceiros que foi para o bem do esporte branco.
    Fiz cirurgia e não deu mais. Mas restaram muitos ensinamentos, bem na forma como tu colcaste no teu texto.
    Abraço, Jerônimo.

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