terça-feira, julho 28, 2009

O TREMA DO REGINALDO

O escritor Reginaldo Pujol contou que o velho amigo do U- o Trema - se mandou para a Alemanha.
Está na internet, dizem.
Outro autor, Henrique Schneider, confirmou o fato no encontro de ontem à noite que aconteceu na Livraria Digital, em Novo Hamburgo.
Fernando Ramos, editor do Jornal Vaia (
http://www.jornalvaia.com.br/) mais os poetas Sidnei Schneider e Alexandre Brito disseram que é verdade: Trema deixou o U na mão!
Tirante o fato triste do abandono ortográfico do amigo do Reginaldo a reunião esteve muito interessante.
Os autores descreveram com detalhes a rotina de trabalho de cada um, leram poesias e contos, fazendo-nos acreditar que a literatura deve ser apreciada e valorizada por todos, pois ela não é feita somente para alguns privilegiados.
Que a iniciativa se repita.
Parabéns!


A imagem é reprodução da capa do livro "O MELHOR DA FESTA" lançado pela Editora Nova Roma - Porto Alegre, RS, neste ano.
O livro apresenta obras de autores que participaram da FESTI POA Literária - Festa Literária de Porto Alegre, organizada por Fernando Ramos Trindade. O projeto gráfico é de Guilherme Moojen.
O evento aconteceu em 2008.

domingo, julho 26, 2009

CASTIÇO

Castiço é o apelido de Miguel Gutierres.
Nascido e crescido na fronteira, aos 16 anos pegou o trem que fazia a linha Livramento - Santa Maria. Procuraria por trabalho e estudo. Queria ser médico de criança.
Em São Sepé, quando o trem parou na estação, Miguel não desceu para o café. Era sete da manhã. Inverno rigoroso. O minuano soprava como nunca. Ficou dormindo recostado na mala de garupa.
O pai de Miguel - o Dr. Gutierres -, estancieiro de umas dez mil cabeças, doutor formado pela vida, desejava que o filho crescesse na lida campeira.
O velho ficou sabendo da viagem quando, às 5 da manhã, foi despertar o filho para mais um dia de trabalho. O guri deixara um bilhete sobre a cama comunicando que decidira realizar um sonho.
Todas as manhãs, às vezes à noite e nas madrugadas, Miguel e alguns peões tinham que recorrer o campo a fim de fazer o balanço das cabeças da estância São Thomás, obedecendo ordens do estancieiro.
Era comum encontrar carcaças de animais carneados ou bezerros agonizando ao relento; como Miguel tinha habilidade e gosto de manusear agulhas, seringas e remédios, vez por outra ele conseguia salvar um e outro animal.
Daí nasceu o desejo de ser médico.
O banco de madeira daquele trem não era tão confortável como a cama do seu quarto na estância, mas Miguel conseguiu encontrar boa posição. Sozinho, ele ocupava os dois assentos, pois o passageiro que lhe fizera companhia desembarcara naquela estação.
A cabeça descansava sobre a sacola com documentos e roupas; as mãos firmes abraçavam um romance. Miguel lia bastante para torná-lo razoável conhecedor de literatura. Era apaixonado por narrativas históricas, ficção e contos.
Falava um português quase castiço; fazia questão de tratar a língua portuguesa com carinho e não criticava de maneira acintosa quem falasse de outra forma, pois ali, na fronteira, as pessoas falavam um dialeto próprio, característico da cultura daquela região. Havia quem não gostasse dos modos de Miguel; afinal eram muitos “esses e erres”.
Por isso recebeu o apelido de Castiço.
Acordou ao sentir a sacudidela no ombro. A enfermeira, em pé ao lado do sofá onde ele agora descansava, dizia alguma coisa que ele ainda não assimilava. O pescoço doía, pois não usava travesseiro e ele adormecera encostado no braço do sofá da sala dos médicos.
Voltando lentamente à realidade notou que a enfermeira falava de um doente que estava aguardando atendimento na sala ao lado. Ele respondeu que sim, que tudo bem, que já estava indo, que estava cansado e louco para ir embora para casa, já que o plantão estaria terminado dentro de meia-hora.
Contou ainda que tinha sonhado com o pai e o dia em que deixara a estância na fronteira, há 40 anos, para tratar de curar pessoas na cidade grande e que seu apelido era Castiço.

sexta-feira, julho 17, 2009

PROJETO DE LEITURAS FEEVALE

Convidado que fui pelo escritor Henrique Schneider estarei participando do Projeto de Leituras Feevale – CONTOS DA VIDA BREVE – que acontecerá no próximo dia 22 de julho, 19 hs, em Novo Hamburgo, com a leitura de dois contos de minha autoria.
O evento será na Biblioteca Pública.
Anexo está o convite com mais dados e o calendário completo do projeto.

quarta-feira, julho 08, 2009

À RAZÃO

Ao ler aquela pequena parte do texto ele travou e, subitamente, voltou-se à própria razão.
Ali estava escrito: “... o poema permite, então, duas leituras: o desgaste material das coisas com o passar dos anos, e o desgaste psíquico, a perda das ilusões do ser humano com o passar do tempo”.
Leu, releu e leu novamente!
Como nas tardes de divã, o texto fora seu analista; como nas tardes de divã, o texto-analista ajudara-o a desnudar inquietações.
Lembrou do dia - num tempo do seu passado - em que pensou nas rugas e cabelos brancos dos velhos desgastados; hoje, aquela idéia é a realidade que pulsa dentro do próprio peito.
Ilusões? Ainda as tem. Secretas, incontáveis!

sexta-feira, junho 19, 2009

CARTA AO EDITOR



Brasília, 20 de junho de 2009.
Prezado senhor editor

Durante os anos de serviços trabalhando neste jornal como office boy, sendo eu encarregado de levar de um lado para o outro papéis, bilhetes e documentos, venho solicitar minha merecida e oportuna promoção.
Com a chegada da internet minha função passou a ser dispensável, tudo por culpa dos e-mails.
Sou office boy há 15 anos. Meus conhecimentos jornalísticos foram sendo aprimorados desde o dia em que me formei no curso que fiz na escola técnica da minha comunidade.
Recebi meu diploma com muito orgulho e, desde então, qualificado para tal função, trabalho no seu jornal com muito interesse.
Por causa de minha curiosidade acompanhei várias vezes o ato sublime do momento da criação pelos jornalistas desta casa que, no outro dia, veriam seus belos textos impressos nas colunas de crônicas e matérias do nosso jornal.
Observei, com muita atenção, editores e articulistas escrevendo nas antigas Olivettis, fato que me fez despertar para nova fase de minha qualificação. Passei a ler todo o jornal!
Cada crônica, cada linha, cada vírgula passou a ser motivo de minha total atenção.
Treinei em casa escrevendo matérias e artigos fictícios como se eu fosse entregá-los para sua revisão e posterior edição. Foi um período emocionante!
Assim, meu editor-chefe, sendo o senhor um dos mais brilhantes jornalistas, eu solicito minha promoção, passando eu a ser o mais novo e humilde jornalista deste veículo, já que, como provei acima, tenho todas as qualidades para exercer a função jornalística.
Adianto-lhe que já conversei com o jornalista responsável pelos artigos de culinária e moda que, prontamente, atestou minha experiência através das anotações que ele mesmo, de próprio punho, escreveu nas costas do meu diploma de office boy que anexo a esta carta.

Sem mais para o momento, subscrevo-me.

Atenciosamente,

Arigledson Faustin.

Office boy e Jornalista (com diploma!)

terça-feira, maio 26, 2009

HELMUT E O FUCA

Pode parecer estranho alguém ser chamado de Helmut; não aqui em Novo Hamburgo, cidade com fortes raízes encravadas na cultura alemã disseminada por colonos que escolheram o Vale dos Sinos como berço.
Helga, a mulher de Helmut, mais Frederico, João e Margarete, filhos legítimos do casal, cujo sobrenome é Bendler, insistem em manter hábitos dos ancestrais alemães.
Eles casaram jovens. Ela 16 e ele 20. Foi na igreja evangélica de Picada Hartz, hoje, Nova Hartz.
Em casa - e quando juntos trabalham com venda dos produtos produzidos por eles mesmos no próprio sítio – se comunicam falando em alemão.
O sítio fica na área rural. Gastam de 45 a 50 minutos de Kombi até chegarem ao centro da cidade onde acontece regularmente a Feira do Produtor Rural.
Numa segunda-feira – dia de Feira – os Bendler chegaram às 5 da manhã, um pouco depois da hora. A Kombi teve um pneu furado. Helmut e Frederico, 18 anos, o mais velho dos três descendentes, teve que providenciar a troca sem antes retirar do veículo as caixas que continham abóboras de pescoço, morangas, batatas e aquelas caixas mais pesadas.
Frederico bem que gostava daquela rotina, mas já demonstrava uma pontinha de curiosidade pela vida noturna da cidade. As festas da lingüiça, da batata, os kerbs e os bailes do chope que aconteciam na vila em que residiam já não lhe provocavam tanto ânimo. Queria experimentar novos caminhos. Divagava, enquanto trocava aquele maldito pneu daquela miserável Kombi 66-Luxo, - pensava o rapaz.
Helmut não parava de lhe dar ordens. Sempre foi assim, um mandão germânico, rude e orgulhoso.
Pneu trocado e com as caixas novamente acomodadas dentro do veículo seguiram viagem até estacionarem no local determinado ao longo do meio-fio da Rua 5 de abril, no centro de Novo Hamburgo.
Mais uma vez Frederico foi encarregado por Helmut de montar os cavaletes que serviriam como apoios às tábuas de madeira onde seriam expostas as cucas, pães, ovos, queijos, biscoitos amanteigados e frutas. Helga tratava de pendurar peças de tricô e crochê que ela mesma produzira durante as poucas horas de folga sentada na sala do chalé de madeira do sítio. Ela também não permitia que os produtos fossem colocados diretamente sobre a madeira, pois pensava que se os alimentos, principalmente as cucas e as tortas de maçã, estivessem sobre a toalha de plástico que ela mesma tratava de colocar sobre as tábuas, os Bendler teriam melhores resultados nas vendas.
Enquanto isso, João que tinha 13 anos e Margarete com 10 para 11 anos, varriam a rua e colocavam os papelões com os preços dos produtos.
A menina chamava a atenção de todos. O vestido cor-de-rosa rodado, sapato branco de boneca e os cabelos cacheados presos por uma fita branca de cetim faziam o maior sucesso, principalmente entre as pessoas que por ali passariam tão logo a guarda municipal liberasse o acesso.
Helga sabia que aquele encanto de menina atraía compradores. Por isso Margarete era orientada para que caminhasse, de um lado para outro, em frente à banca dos Bendler.
Porém, Helmut não aprovava a estratégia adotada por sua companheira, pois dizia que Margarete tinha que ficar atrás da bancada cuidando dos restos de folhas das beterrabas, galhos das cenouras e de uma ou outra fruta que estivesse podre colocando tudo aquilo no latão de lixo, ao lado da Kombi. Ele ainda pensava mais; dizia que não necessitava de ajuda para vender seus produtos, pois quem quisesse comprar que comprasse! Afinal “todos” sabiam que era a melhor banca da Feira, porque eram produtos produzidos pelas mãos de um genuíno descendente de alemães e, por isso, eram os melhores da região.

Helmut declarava-se o melhor produtor do Vale, assim como afirmava que nenhuma
fábrica de automóveis fabricou ou fabricaria veículos como os da Volkswagen,
muito menos utilitários, pois a Kombi seria a melhor camioneta já produzida no
Mundo e em todos os tempos. Imbatível! Era invenção dos alemães!
O pastor Rubens, de Picada Hatz, várias vezes pediu que Helmut contivesse os
ânimos mantendo os limites de expressão verbal, pois estava sendo, até certo
ponto, discriminativo
.

Helmut e Helga não tinham mais tempo para avaliações de mercado. A Feira estava abrindo.
Desta forma, Margarete passou o dia entre os afagos de senhoras e senhores pelos cachos loiros e muitos e repetidos elogios.
Helga, orgulhosa, contava o dinheiro que ganhava com a ajuda importante da filha.
Neste meio tempo João concentrava-se na vitrine da loja de material esportivo que ficava logo adiante. O menino era fascinado por futebol!

Perto do meio-dia Helga percebeu que Helmut sentara à sombra de uma das árvores do outro lado da rua. Estranhou, pois ele não se entregava a esses momentos de relaxamento. Ela então se aproximou do marido levando o copo com água fresca. Helmut suava bastante para que ela se preocupasse com o marido.
- Você está se sentindo bem, Helmut? – perguntou desconfiada.
- Estou bem. Não tenho nada, mulher. Volte para a banca.
- Eu te conheço, alemão cabeça-dura! Bebe esta água e me fale o que tu sentes?
Helmut se levantou rápido como um garoto e, deixando para trás sua mulher com o copo na mão, foi para a banca atender a um cliente que escolhia batatas.
A mulher, que já vira seu marido ter reações semelhantes nas últimas semanas, resmungou alguma coisa em alemão e voltou para trás da bancada. Mas seguiu observando o comportamento de Helmut.
As cucas assadas no forno de barro do sítio dos Bendler, sem dúvida, eram as melhores da Feira. Logo se esgotaram.
Margarete seguia caminhando de um lado para o outro; João permanecia com os olhos fixados na bola de futebol da loja esportiva; Frederico empacotava produtos e cobrava os clientes; Helga vendia seus crochês; as pessoas iam e viam com sacolas e carrinhos; Helmut precisou ir até a farmácia da esquina, do outro lado da avenida, para comprar algum remédio; sentia frio e enjôo.
Sem Helga saber falou para Frederico que já voltaria.
Quando retornava da farmácia, após ter ingerido duas drágeas de um remédio receitado pelo balconista e sentindo-se zonzo, não percebeu que o sinal verde indicava que o fluxo era preferência dos veículos e não dos pedestres.
Ao atravessar e já no meio da avenida aconteceu o desastre!
Todos em volta ouviram a freada de um veículo que provocou a correria das pessoas em direção à avenida. Frederico foi um dos primeiros a chegar. Lá estava seu pai estirado sobre o asfalto quente.
Frederico ajoelhou-se e segurou carinhosamente a cabeça do pai que agora balbuciava palavras ora de dor ora de ordem.
Frederico pediu que ele não falasse nada, que tudo iria dar certo. Que a ambulância já estava a caminho.
Mas Helmut, germânico, teutônico e rude não se entregaria assim, simplesmente.
Mandou Frederico voltar para a barraca e ficar com a mãe; ordenou que, amanhã, o milho fosse colhido e que Frederico não deixasse de ordenhar as vacas antes das 4 da manhã, pois o caminhão da cooperativa passaria pelo sítio às 6; que Helga comprasse a bola de futebol para João, pois sábado era o aniversário do menino; que Margarete saísse da frente da banca e, por fim, queria saber quem o havia atropelado.
O motorista do veículo se aproximou, porém estava muito assustado com a cena.
Helmut teve forças para puxar o braço do homem e perguntou ofegante:
- Você é o motorista?
- Sim, senhor, - disse o homem.
- Você é alemão? – perguntou Helmut em alemão.
- Sim.
- Qual o seu nome?
- Adolf, senhor, - respondeu o homem aturdido.
- Eu deveria lhe dar um bom soco nesta cara vermelha, Adolf, mas não vou...
Frederico e Adolf se entreolharam sem entender nada!
- Eu poderia morrer feliz, seu miserável! – afirmou Helmut falando com dificuldade entre os dentes cerrados, - perguntando:
- De que ano é o seu carro?
- É um Fuca 1959, alemão, importado pelo meu avô, - disse Adolf.
- Um Fuca? Um verdadeiro Volkswagen? – Helmut seguiu dizendo: - você me pegou muito rápido, Adolf, mas eu desconfiei que fosse um Fuca e torci para que fosse mesmo! Danke, - agradeceu em alemão.
Helmut olhou para Frederico, segurou a mão do filho, sorriu e voltou para a barraca!







quarta-feira, maio 13, 2009

MANTRA


Um dia desses sei que vou compreender
O que dizem as cartas ciganas
Saberei porque caçam anjos, querubins
Arrastam, matam, odeiam com gana

Viajam na droga em templos escuros
Matam a fome com a ira pagã
Do fanatismo que cega em seitas noturnas
Com corpo e cara de leviatã

Mantra, Mantra, Mantra
Eu quero Mantra...

Coisas do azul
Pedaços de céu
Escrevo aqui mesmo
Meu sonho meu mel


(Para a BBLUES - Letra e música: George Arrienti)

terça-feira, abril 21, 2009

Que há, há!

Há indignação generalizada!
Há político e política!
Há impunidade geral!
Há inércia!
Há voto!
Há esperança? (Há que me convencer!)
Há que mudar!
Há!

quinta-feira, março 26, 2009

Obrigado, presidente!


A frase do presidente é realmente de embitesgar britânicos, brasileiros e outros....

“Não podemos permitir que os pobres paguem por uma crise feita por ricos, sobretudo porque ela não foi gerada por nenhum negro, índio ou pobre. Essa crise foi feita por gente branca, de olhos azuis que antes da crise sabiam tudo e, agora, não sabem de nada”, salientou Lula.

Obrigado por tanta sensibildade e sabedoria, presidente!!!!

segunda-feira, março 02, 2009

RESPOSTA

Sem a autorização do autor do texto - espero que ele não fique contrariado - copiei a resposta do amigo Jerônimo Jardim escrita nos "comentários" do meu blog quando falei sobre a garotada tocando boa música.

Aí vai:
Ainda não perdi a esperança que a gurizada descubra o que é a harmonia jobiniana. Mas, da mídia, nada mais espero. Precisa de audiência para ter a verba dos comerciais que vendem produtos para as grandes massas. Atende o que garante a audiência. Não creio que isso vá mudar. Vale tocar em casa ou pra poucos bons ouvintes. (Jerônimo Jardim)

Decidi destacar a opinião do Jerônimo - e digo que concordo plenamente - depois de ouvir algumas "coisas" que estão rolando pelas rádios "mais" ouvidas.