PARIS, ANOS DEPOIS. (Carta a Roberto)
Caro
amigo Roberto,
Aqui
estou eu debruçado sobre a minha prancheta, às cinco horas da manhã. Faz calor
e o verão parisiense é indigesto e sem graça; gostaria de estar em Copacabana
bebendo chope gelado e olhando para o mar, mas como sempre falei, a vida está
sempre nos colocando à prova. Sinto saudade do Brasil; estar exilado, mesmo em
Paris, é desumano.
Não tenho
amigos por aqui e juro que, sem eles, eu sou ninguém. Por isso o meu tempo eu
gasto no trabalho, em desenhos e leitura; tenho ouvido muita música.
Ganhei de brasileiros que chegaram do Rio, e passeiam
pelo Velho Mundo, dois LPs com o melhor
da bossa nova. Muito bom!
Meu
escritório fica na Champs Elysée; aqui da janela eu já posso ver o francês se
movimentar para o trabalho, escolas e escritórios; porém eles são muito
diferentes de nós brasileiros; andam olhando para eles mesmos!
Terminei,
nesse momento, o croqui da Sede do Partido Comunista Francês; está muito
bonito; acho que irão aprovar. Quero que você crie algo para os jardins. Vou
mandar as plantas com os desenhos e fotografias do local.
Lamentavelmente
Candim se foi (e já tem cinco anos!); se estivesse vivo, eu daria para ele uma
parede enorme que certamente viraria um belo mural!
Responda
minha carta, por favor!
Paris,
outubro...
Assinado: Oscar
Recado à
hiena da censura: se você abrir essa carta antes que ela chegue às mãos de
meu amigo, saiba que eu acho você um grande merda!
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