terça-feira, janeiro 04, 2011

A CARTA


PARIS, ANOS DEPOIS. (Carta a Roberto)

         Caro amigo Roberto,
         Aqui estou eu debruçado sobre a minha prancheta, às cinco horas da manhã. Faz calor e o verão parisiense é indigesto e sem graça; gostaria de estar em Copacabana bebendo chope gelado e olhando para o mar, mas como sempre falei, a vida está sempre nos colocando à prova. Sinto saudade do Brasil; estar exilado, mesmo em Paris, é desumano.
        Não tenho amigos por aqui e juro que, sem eles, eu sou ninguém. Por isso o meu tempo eu gasto no trabalho, em desenhos e leitura; tenho ouvido muita música.
Ganhei de brasileiros que chegaram do Rio, e passeiam pelo Velho Mundo, dois LPs  com o melhor da bossa nova. Muito bom!
        Meu escritório fica na Champs Elysée; aqui da janela eu já posso ver o francês se movimentar para o trabalho, escolas e escritórios; porém eles são muito diferentes de nós brasileiros; andam olhando para eles mesmos!
       Terminei, nesse momento, o croqui da Sede do Partido Comunista Francês; está muito bonito; acho que irão aprovar. Quero que você crie algo para os jardins. Vou mandar as plantas com os desenhos e fotografias do local.
       Lamentavelmente Candim se foi (e já tem cinco anos!); se estivesse vivo, eu daria para ele uma parede enorme que certamente viraria um belo mural!
       Responda minha carta, por favor!
       Paris, outubro...
      Assinado: Oscar

       Recado à hiena da censura: se você abrir essa carta antes que ela chegue às mãos de meu amigo, saiba que eu acho você um grande merda!

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