domingo, janeiro 31, 2010

EU LÁ

Eu lá, em pé, procurava abrir o zíper. No mictório, cascas de limão exalavam o odor que se misturava ao cheiro da urina respingada. 
Ouvi o barulho vindo da descarga de um dos vasos sanitários. Um homem abriu a porta. Não me olhou, não lavou as mãos e deixou o banheiro. 
Eu permaneceria ali mais um tempo tentado entender aquela situação e abrir o zíper. 
A porta daquele box de onde há pouco o homem saíra abria-se lentamente. Eu podia ver com o canto dos olhos. De lá saiu um garoto. Estava assustado. Espiava para os lados. 
Eu não podia virar meu rosto para fitá-lo. Não conseguia. Eu estava procurando me entender. 
Segui olhando para a parede em frente. O garoto balbuciou alguma coisa que eu não consegui entender. Veio em minha direção. Pediu ajuda. Disse que o homem o violentara e queria que eu visse as marcas roxas nos braços dele e que eu não contasse para ninguém. Ele estava envergonhado e se culpava por tudo. Não queria saber de polícia. 
Eu então entendi o que se passara e encontrei a resposta para a minha dúvida. 
Fiquei de frente para o garoto. Ele me olhou e veio ao meu encontro. Abracei-o. 
Lá fora, o homem já havia sido detido e, algemado, fora colocado dentro do camburão da polícia. 
Como uma policial competente eu desvendara aquele caso de estupros que vinham acontecendo há dois meses. 
Permaneci abraçando meu filho ali mesmo até que um policial chegou para nos acompanhar.

3 comentários:

  1. esta parte dos dias
    das noites,
    que não esta
    em nenhum folhetim,
    tras o cinza da realidade
    pra dentro da arte pela palavra.


    bom de ler.

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  2. Bah, George!
    Que final loucooooooo!!!!!!
    Muito bala!

    Abraço!!!!!!

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  3. Muito bom! Final surpreendente!
    Abraaço!

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